Convenhamos que Serra seria a pior escolha para a presidência.A educação, que já não é das melhores, iria ralo abaixo.Nunca vi tucano investir no ensino público.São partidários ferrenhos do Estado mínimo e das privatizações.Só não privatizam a si porque não daria lucro.
Vale ressaltar que a eleição de 2010 foi a mais baixa no quesito ética.Casamento gay e aborto viraram moeda de troca.Os segmentos evangélicos aproveitaram-se da situação, interferindo, novamente, nas políticas públicas.Tanto Dilma quanto Serra promoveram a manutenção de um sistema de privilégios, onde os grupos, historicamente oprimidos, voltaram ao seu papel comum: a vassalagem.E o Estado laico foi parar em algum lugar de Pasárgada.
Em longo prazo, como conseqüência desse jogo sujo em busca de poder, temos as reações homofóbicas, machistas, xenofóbicas, que vagaram Brasil a fora.Os ataques na Avenida Paulista e as mensagens de incitação ao ódio nas redes socias.
Uma mulher, no poder, é uma conquista para a causa Feminista.As mulheres só ocupam 9% dos cargos parlamentares.
Não digo que toda mulher que ocupa um cargo de poder vai desenvolver políticas em benefício de outras.
Mas no caso da Dilma, ela representava o marco da emancipação da mulher e do seguimento de um governo voltado para as camadas subjugadas.
Teoricamente, um governo que assistia as pessoas mais pobres, não é?
Embora sejamos donas de 51, 7% do eleitorado, só em 2010, uma mulher foi eleita, mesmo sob fortes críticas pelo simples fato de ser mulher.Sua competência era medida pelo gênero.
Uma presidenta demonstra maior projeção feminina na política e em outros âmbitos da sociedade.Por isso, eleger uma mulher figura o processo de conquista de direitos. Mas apesar de eu ser feminista, não me sinto representada por ela.
Não votei na Dilma.Não votaria se as eleições fossem hoje.Não concordo com os planos de governo.Não gostei de como a política foi tratada durante as eleições de 2010.Acho que, muitas vezes, há uma omissão por parte dos presidentes.Depositei minha crença no Lula, em 2002.Não vingou.
Porém, não posso fechar os olhos para a transformação política, social e econômica que o Brasil sofreu.Maior projeção externa; milhões de pessoas saíram da linha da pobreza; investimentos na educação pública, com a construção de 214 escolas técnicas e 16 universidades federais; introdução de 15, 5 bilhões no FNDE(Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação).
Entretanto, não acho que houve transparência.Acho que existiu um comum acordo entre governo e banqueiros.Lembram da Reforma da Previdência, em 2003?Lula começou cuspindo na cara do trabalhador.E para quê?Para pagar as dívidas públicas com os banqueiros. Eles lucraram 236 bilhões no governo Lula.
Não acho que houve uma tentativa profunda de desconstrução das mazelas já arraigadas.Vi métodos paliativos nas políticas públicas.Não gostei dos escândalos que marcaram a sua administração.Não gostei do apóio ao José Sarney, mesmo ante um cenário de puro despotismo e nepotismo.
O Brasil tinha condições de promover transformações profundas, voltadas, realmente, para as camadas pobres.E diante dessa omissão, que custa a vida de muitos, desacreditei do PT.Sabemos como os jogos políticos se constroem.Os financiamentos das campanhas já demonstram a entrega ao empresariado.E quem paga?O trabalhador e a trabalhadora que não têm a quem recorrer.
Meus motivos para não vibrar com outro governo do PT?
1)Na casa civil, tem-se Antônio Palocci.Sim, aquele que foi cassado por corrupção.O mesmo responsável, em 2003, pelos reajustes fiscais e altos juros.Vibremos!
2)Corte nos gastos públicos para 2011.Guido Mantega anunciou que o corte será de cerca de 20 bilhões.E isso é apenas o começo.Manutenção dos serviços públicos parece que não é prioridade.E o aumento salarial ridículo, de apenas 30 reais.O que isso significa?Infelizmente, isso significa que, novamente, os trabalhadores(as) irão sofrer.
3)A crise.A Globalização mandou avisar que, economicamente, nosso país é regido, em grande parte, pela dinâmica das multinacionais.O que acontece é que tanto os EUA quanto a Europa estão passando por agravamentos da crise econômica, com altos índices de desemprego, rombos nos fundos públicos por causa dos estímulos fiscais e cortes nos gastos públicos.O governo brasileiro estima que, em 2011, haverá um rombo de 50 bilhões de dólares por causa do mercado externo.
4)Corte de 3 bilhões no PAC.
5)Política voltada totalmente para os banqueiros e, parcialmente, para o trabalhador.(Esse parcial é só para manter a boca das pessoas repleta de pães enquanto elas são obrigadas a assistir às novelas da Globo, o circo)
Esses motivos são suficientes.Devido à manutenção da política econômica, o trabalhador(a) vai suportar todo tipo de opressão.As camadas mais pobres é que vão sofrer quando a saúde, a previdência social e a educação sofrerem interferências.O desemprego vai ser um fantasma soprando ao ouvido dos menos favorecidos.E os banqueiros?Vão se aproveitar das verbas públicas, como sempre fazem.
Fico feliz que, finalmente, uma mulher esteja no poder.Mas não fico feliz por essa mulher ser a Dilma, uma representante do PT, partido que deixou de lado sua ideologia.Precisamos de mais mulheres na política.Precisamos ter opções.Esses 9% dos cargos parlamentares, quando somos mais da metade do eleitorado, é a marca do quanto o Brasil é um país machista.
Ouvi todo tipo de comentário maldoso sobre uma mulher não conseguir orquestrar um país.Vi, na imprensa parcial, leia-se Veja, Globo e Folha de São Paulo, o intento da manobra baixa, tentando demonizar uma candidata pelo único e exclusivo motivo de ser mulher.
Assisti aos ataques de um candidato desesperado, conservador e hipócrita, que gostava de aplicar, à Dilma, o que as mulheres, na sociedade, comumente sofrem: as prendas da boa mulher, as qualidade virtuosas de mulher digna.Aquelas mesmas qualidades que nos são imputadas antes de sairmos do ventre materno.Esse mecanismo de controle para que haja um domínio sobre o papel da mulher, para que ela faça a manutenção do patriarcado e seja desmoralizada, oprimida, quando foge do padrão.
Simone de Beauvoir deixou claro, em seu livro, “O segundo sexo: fatos e mitos”, a condição do eterno feminino.Trabalhou a cristalização das convenções na idéia das virtudes da boa mulher, de modo a condicioná-la a um paradigma comportamental do feminino, onde ela não é enxergada como um ser autônomo, logo, não vista como essencial.
A caracterização da mulher como algo inútil, de perspectiva fútil, maternal e resignada, gera segregação social, subjugando mulheres e inferiorizando-as. Então, em um país machista, com valores pautados na família(patriarcal), pátria(machista/homofóbica/racista) e moral(crivada pela conduta cristã proposta por igrejas), uma mulher, na presidência, é um momento histórico, uma conquista sem precedentes e um chute no ego de macho alfa de alguns por aí.
Como havia dito, não me empolgo com o fato de ser um novo governo do PT.Reconheço a conquista para as mulheres.Reconheço a validação de alguns ideais Feministas.Porém, não me sinto bem ao perceber que, mais uma vez, os pobres irão pagar para que os banqueiros tenham seus lucros assegurados.