A marcha das vadias de Fortaleza o desafio da mulher Aborto Livre Reflexão política no Brasil
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Brasil Colonial II




1)Vivência religiosa

As práticas religiosas, definidas pela Igreja Católica, eram da oração pessoal e do culto público.Os ritos públicos tinham como função primordial o controle social e a manutenção da hierarquia da Igreja.Mas no Brasil, como os centros urbanos eram pouquíssimo e não possuíam tradição associativa , as celebrações eram abandonadas ou realizadas no interior das Igrejas, ou ficavam restrita às celebrações domésticas.


Existia uma clara diferença no tocante das características sócio-econômicas, visto que as elite branca afastava-se das pessoas menos abastadas e de cor, isolando-se atrás das balaustradas e colunatas próximas ao altar-mor.Posteriormente, os mais nobres construíam seus locais de culto, desta forma, evitando o contato com os fiéis de outras raças e de status inferior.A falta de compostura dentro das Igrejas coloniais é algo passível de análise, já que os colonos aproveitavam o espaço para se socializar, flertar, mostrar o status, trocar bilhetes furtivos, tocar o corpo das donzelas, como formas de vaidade e ostentação.


Eram fixadas três orações diárias: às seis da manhã(hora do ângelus), ao meio-dia(hora que o diabo está solto),às seis da tarde(hora de ave-marias).Em muitas casas urbanas, existia uma cruz pregada à porta da entrada; nas zonas rurais, elevava-se uma bandeira com um santo, que demonstrava a preferência familiar.Dentro da casa, ficava as imagens, quadros, amuletos, que davam a idéia de sacralização do ambiente.


Na parede contígua à cama, havia um símbolo visível da fé cristã; o rosário era pendurada sobre a cabeceira da cama.Os cristãos, antes de levantar, deveriam fazer o sinal da cruz, recitando a oração.Como tradição católica, mesmo antes do amanhecer, fazia parte do ideal de piedade a entrega da alma do pecado a Deus.Os seguidores da Lei de Moisés também possuíam piedosas orações.Na parede da sala de muitas casas coloniais, localizavam-se quadros dos santos de maior apego e, muitas vezes, era deixado uma tigela com óleo de mamona, onde uma lamparina queimava diuturnamente, prestando homenagem ao santo de devoção.


O oratório funcionava como um relicário, onde eram conservadas as relíquias relacionadas ao divino.Nesse espaço também eram guardados talismãs aceitou ou tolerados pela Igreja.Os santos e os oratórios eram bentos e abençoados pelo vigário durante as visitas nas residências, porém, nem sempre a relação entre a imagem dos santos e os fiéis era dentro das normas permitidas pela ortodoxia católica.Também era comum a construção, nas propriedades rurais mais abastada, de pequenas capelas que possuíam um sacerdote residente ou a assistência de algum clérigo, que amparava religiosamente os senhores e seus escravos.Essas construções eram sinônimos de status e de obrigações religiosas.


2)Pieguismo Barroco

Os católicos da colônia acreditavam na máxima de que a fé sem obras de nada valia, elegendo a penitência como algo complementar à oração.As mortificações eram praticadas em âmbito público e privado, funcionando como um elemento necessário para a purificação das almas mais selvagens e frígidas.Tanto os religiosos quanto os leitos entregavam-se à autoflagelação.



A religiosidade era expressa por uma forte emoção, criando o ideal ao gosto Barroco.A devoção aos santos e às relíquias viravam obsessão para os mais crédulos.Cada devoto possuía sua organização para oração, guardando-se com os seus santos protetores e prediletos e seu anjo da guarda.



Os quadros de milagres e ex-votos demonstram a relação íntima que existia entre os fiéis e os santos de devoção, visto que são dramáticas e delineiam uma espécie de tentativa de salvação.Pode-se caracterizar os colonos brasileiros, de acordo com a fé católica, em grupos distintos:

2.1)Católicos praticante fervorosos:
Aceitavam os dogmas, a moral católica, a hierarquia eclesiástica, demonstrando uma fé inquestionável.

2.2)Católicos praticantes superficiais:
Cumpriam os rituais católicos e deveres religiosos por obrigação e não por convicção.


2.3)Católicos insatisfeitos:
Evitam os sacramentos, os rituais, por serem indiferentes à fé católica e praticar um rito heterodoxo.


2.4)Falsos católicos:
Por conveniência, diziam-se católicos, mas só para cumprir com as funções sociais e evitar a representação inquisitorial.Boa parte dos cristãos-novos, animistas, libertinos e ateus.Guardavam crenças heterodoxas ou sincréticas.


Gradativamente, foram se cristalizando diversos tipos de vivência com base na religião.Na doutrinação dos fiéis da colônia, fazia parte a crença em um Deus onipotente, juiz justo e comandante dos exércitos, que castigava aquele que pecadores e dissidentes de suas leis, rogando-lhes pragas, pestes, e infortúnios.A contrição funcionava para os fiéis uma mão única para alcançar a virtude.Existiam católicos que se dedicavam à vida religiosa por prazer, utilizando-se do ritual de autoflagelação física e espiritual.




3)Modelo de vivência católica


Os conventos e mosteiros femininos foram fundados tardiamente, e eram muito raros e dispersos.Muitas donzelas católicas fervorosas entregavam-se ao claustro domiciliar, elevando à consagração de corpo e alma ao Divino Esposo.Dedicar-se aos sacrifícios e mortificações tinha como fundamentação a perfeição mística.Os colonos demonstravam maior intimidade com a corte celeste do que com as autoridades constituídas.


4)Devoção aos santos

O sacrilégio com a imagem dos santos era atribuída aos judeus e cristãos novos, como, por exemplo, jogar o santo no urinol, ou pinicar a imagem com agulha.


Essas práticas se davam pelos crentes de outras manifestações religiosas que eram obrigados a viver camuflados no catolicismo para promover seu bem estar social e fugir do Santo Ofício.No seu lar, essas pessoas descarregavam sua descrença nos símbolos cristãos.Outro caso de sacrilégio contra os santos era quando este não atendia um pedido do fiel.


Com isso, os ritos menos ortodoxos eram acionados, como os pactos com o Diabo, as simpatias, ensalmos e orações fortes, que eram estritamente proibidas pelas Constituições do Arcebispo da Bahia, mas que fazia parte da crendice popular.


No lar, as práticas religiosas davam vazão ao sentimento, tanto dos mais crentes, que buscavam a virtude por base da humildade, da penitência, quanto dos mais heterodoxos, que viam em sua morada a fuga dos olhos públicos sobre suas práticas.



5)Simpatias domésticas

A hierarquia católica se opunha rigorosamente as superstições, feitiçaria, crendices, considerando-as diabólicas.Era comum homens e mulheres recorrerem a feiticeiros em caso de doenças graves, que não haviam sido curadas pela Igreja e nem pelos remédios.Essas práticas foram condenadas com pena de excomunhão.Também eram excomungados aqueles que usassem objetos pertencentes aos ritos heterodoxos, como era o caso da pedra de ara, bolsas de mandingas e patuás.


Os párocos eram ordenados a advertir os fiéis durante os púlpitos, explicando o peso desses desvios.Mas no Brasil colonial, em toda localidade, encontrava-se rezadeiras, benzedeiras, adivinhos.As práticas se misturavam.Mais de centenas de católicos, em pequenas vizinhanças rurais, por exemplo, utilizavam-se de uma gama de bênçãos proibidas, pelos quais sofreriam castigos graves, como até mesmo açoites, multas.O baixo clero demonstrava indiferença diante desses ritos heterodoxos.


Em Minas Gerais, por exemplo, era comum a prática do “calundu”: um rito caracterizado pelo estrondo dos atabaques e pandeiros.Tanto sacerdotes quanto fiéis mais afincados sentiam-se impotentes diante de tais rituais, mesmo enxergando-os como algo diabólico, passível de castigos rígidos.


6)Práticas particulares

Embora muitos desviantes da fé católica mostrassem sua ousadia, seja por parte dos protestantes, cristãos novos, judeus, ateus, feiticeiros, ainda assim, buscavam a ocultação das crenças e rituais, visando não despertar a repressão da justiça civil e inquisitorial.

Obedecendo ao jargão que diz: o segredo é a alma do negócio, isso funcionava em questões religiosas, que se utilizavam da camuflagem para evitar as denúncias e ter o monopólio de certos poderes.Os artifícios usados pelos heterodoxos eram inúmeros, mas vale salientar três: realizar cerimônias proibidas em locais reservados ou distantes; ocultar-se na madrugada; camuflar-se.


Os adeptos dos rituais africanos instalavam-se em locais mais distantes da povoação, evitando a atenção pública, desta forma, evitando a repressão; outro motivo seria a aproximação com os deuses da África.



7)A confissão dos pecados


O confessionário tinha caráter privado e público.Deveria promover a privacidade entre sacerdote e fiel na hora da confissão, permitindo que só o clérigo pudesse ouvir a confissão.O caráter público era ser o de alcance ao olhar das pessoas, desta forma, intimidando o fiel a ceder às tentações.A confissão era indispensável à vida cristão.E a narrativa detalhada dos pecados era obrigatória.O padre era obrigado a citar os nomes dos confessados, sobrenomes, lugares onde viviam, a rua onde morava, a casa, o sítio ou fazenda.



A excomunhão era o preço que o fiel pagava por não cumprir esse dever.O sacerdote, após a confissão, deveria assumir uma figura paternal, humilde, de caridade, analisando o estado do fiel para dar-lhe a penitência correta.Muitos párocos desobedeciam às Constituições, promovendo a confissão em lugares públicos, dentro da sacristia, nos alpendres das casas, indecentemente vestidos.Outros sacerdotes impunham medo aos fiéis, visto que criticavam ferinamente seus fiéis, delatando seus pecados, condenando-os, xingando-os.Alguns padres exigiam presentes em troca da confissão, e determinavam castigos àqueles que não seguissem suas normas.


A maioria dos clérigos da época colonial tornava público aquilo que lhe fora confessado.O sigilo da confissão era quebrado.Nem todos os católicos da época eram possuidores de confiança nos párocos, o que acabava por levar-lhes a ocultar e mentir sobre seus verdadeiros atos.Existiam também aqueles que se confessavam mais por convicção ideológica.Gradativamente, muitos fiéis tornaram-se neuróticos, sempre em dúvida se haviam feito a confissão inteira ou se tinham ocultado algo.


Temendo os castigos, e para se reassegurar sobre a coisa certa, confessavam duas vezes o mesmo pecado.Além desses fatos, existiam também os convites indecentes às mulheres.
A cristalização religiosa, no Brasil colonial, deu-se pela sincretização de vários ritos.Isso é explicado pela diversidade cultural que o Brasil englobou.
(Mari N.) e (Bia G.)
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O papel do professor





O método pedagógico é uma das questões mais difíceis em relação ao trabalho do professor.Nunca se sabe qual é a forma mais adaptável, tendo em vista a diversidade da personalidade dos alunos.Para corroborar com essa dificuldade, tem-se o fato da própria escola, muitas vezes, não apresentar a estrutura necessária para o ensino.

O papel do professor fundamenta-se, então, na dicotomia, pois reside nas linhas contraditórias,ora do autoritarismo ,ora da democracia em sala.Como chamar a atenção dos alunos, fazê-los ouvir, incitar-lhes a sede do conhecimento, sem antes haver uma espécie de conquista gradual, ou total imposição do educador?O respeito confunde-se com a auto-afirmação da figura do professor, que monopoliza a voz em sala de aula, deixando de lado a opinião dos alunos.Porém, quando assume um posicionamento mais flexível, perde controle em suas aulas.Difícil é saber dosar até onde essa flexibilidade deve ir para manter a ordem e, ao mesmo tempo, proporcionar um ensino prazeroso.

François Dubet, na entrevista “Quando o sociólogo quer saber o que é ser professor”, narra sua experiência como educador, percebendo a dificuldade no posicionamento do professor, pois este se sente frustrado, no início da experiência, externando as várias facetes que o educador deve usar para, diariamente, ter a atenção dos educandos.Grande parcela dos alunos visualiza o professor como um obstáculo, um inimigo que rouba seu espaço.

Infelizmente, esse abismo deve-se à impessoalidade do muitos educadores, que vêem o aluno como uma ferramenta do sistema, quando deveria enxergá-lo como um ser humano que tem problemas pertencentes a sua idade, ao seu círculo social.Contudo, o ensino tornou-se mecanizado, criado para um aluno padrão que não existe.Quando o professor assume um papel mais protetor, de se importar com o histórico do aluno, interessando-se por seus problemas, isso favorece o elo entre educador e educando, firmando uma relação mais emocional, baseado na troca, do que na unilateralidade fria e distante que o sistema criou.

Os professores mais eficientes são os que demonstram crença em seus alunos, instigando-lhes a luta pela evolução pessoal.O papel do professor é realmente complexo, pois além de formar profissionais, ele forma também seres humanos, então isso cria uma certa hostilidade diante daquilo que é dito pelo educador, pois existe um receio inicial de se voltar contra aquilo que lhe é exposto, como forma de protesto tão peculiar da juventude.Isso gera uma confusão até na postura do educador, que precisa se reinventar, todos os dias, a fim de prender a atenção dos alunos.

Existem grupos dissidentes dentro de uma sala de aula; alguns optam por seguir as regras, por estudar; outros optam por manifestar seu repúdio, desligando-se daquilo que é ensinado.De qualquer forma, neste fogo cruzado, fica o professor, que acaba escolhendo quais alunos devem ser deixados à margem e quais devem receber uma atenção especial, como forma de reconhecimento.Todas essas problemáticas, de alguma forma, acabam frustrando o profissional da educação, que se vê preso às convenções, ao sistema e à política educacional.

Funda-se um mito na figura do professor, estigmatizando-o de autoritário, reacionário e frio.Mas como ficar a par de todas as questões relativas aos alunos, sendo que o professor, como qualquer outro ser humano, também possui os seus problemas?Quando entra em sala, o professor entra em um julgamento contínuo, onde os educandos o desnudarão e, posteriormente, o sentenciarão como digno ou indigno de consideração.

A padronização do ensino não põe fim às dificuldades.A uniformidade do método não é a saída.É preciso começar pela reinvenção do sistema educacional, estabelecendo novos pilares que a sustentem, de forma a não marginalizar os jovens, a não excluir uma parcela, a não estigmatizar o professor e nem mecanizar o conhecimento ou torná-lo um produto vendável.Quando novas diretrizes traçarem o um ensino mais sensível aos seres humanos do que indiferente a eles, poderemos ver uma gradual transformação no campo da educação, sem haver a necessidade de auto-afirmação e descrédito do sistema educacional.


(Mari N.)

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Metafísica III




Nada é impossível de mudar


Desconfiai do mais trivial,
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito
como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural
nada deve parecer impossível de mudar.


(Bertolt Brecht)-(1898-1956)-Dramaturgo e poeta alemão. Revolucionou o teatro com peças que visavam estimular o senso crítico e a consciência política do espectador.
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A Filosofia e as Ciências Sociais





1)Fale sobre a Filosofia e sua relação com as Ciências Sociais.


Resposta: A Filosofia procura, através de uma atitude objetiva ou imparcial, buscar resposta para uma série de questionamentos levantados com a finalidade básica de fugir do senso comum. Uma atitude filosófica tem como embasamento a criticidade, ou seja, é um ato de negar os pré-conceitos e pré-juízos, constituindo um desapego às idéias de aceitação de “verdades absolutas” e, ao mesmo tempo, pregando interrogações as quais seriam irrelevantes para o pensamento comum.


Presume-se, pois, que tal idéia de negação venha a causar impactos no estudo do homem sobre o homem a partir do momento em que a admiração e o espanto tomam lugar dos conceitos pré-gerados. Facilita-se, desse modo, o trabalho do filósofo da elaboração de indagações a respeito do que somos, por que somos, como somos, por que devemos, por que vivemos assim etc.

Portanto, a ação científica do pensar pressupõe a consciência da existência de crenças, sentimentos, valores etc. Porém estes fatos devem ser observados pelo cientista a partir de certo nível de exterioridade, buscando questionamentos pertinentes dos “por quês” das idéias, situações e comportamentos. Um estudo minucioso da existência cotidiana dos homens.

As Ciências Sociais, através do estudo detalhado da sociedade, do relacionamento do homem inserido no meio em que vive, das ações individuais ou institucionais, necessita, portanto, desta criticidade e da objetividade já trabalhadas pela Filosofia, assim como o aspecto da observação exterior e da reflexão radical, formulando hipóteses, analisando, comparando, buscando princípios e levando a uma melhor compreensão do mundo.

Estas questões filosóficas são de suma importância para as Ciências Sociais que tomam a Filosofia como a “mãe de todas as ciências” com a pretensão de serem conhecimentos verdadeiros a partir de métodos severos de pensamento. Assim, é uma pré-condição para o cientista social tomar por base tais questionamentos rigorosos na metodologia do trabalho científico. É papel do pesquisador, enquanto cientista social, examinar o já conhecido pelos filósofos, questioná-las e imaginar novas possibilidades.


2)Em que sentido se diz que a Filosofia é um pensamento organizado e sistemático?


Resposta: A definição de pensamento sistemático ainda está posicionada no âmbito da busca pela cientificidade e pela crítica que caracterizam uma diferenciação daquilo abordado pelo senso comum.


A sistematização do pensar contrapõe a idéia da noção reducionista, ou cartesiana, mecanicista e pragmática no meio científico e cultural na qual a observação é realizada separando-se os fatos como se não estivessem entrelaçados. A experiência histórica mostra que fragmentar os acontecimentos não denota um bom conhecimento da realidade. Um exemplo disso seria a difusão da desigualdade social.

Sistematizar significa, basicamente, investigar, analisar minuciosamente os aspectos estudados. Significa usar ferramentas que examinem e procurem provas e demonstrações as quais devem validar a afirmação do cientista, tornando-a verídica, coerente, isto é, apenas expor determinadas respostas ainda não é suficiente para o real interesse do pesquisador.

A Filosofia, então, por possuir um embasamento intelectivo, não deve se basear em opiniões pessoais a respeito das coisas. Ela, portanto, se utiliza de tal tipo de raciocínio organizado devido a estas características, com a intenção de rebuscar, demonstrativamente, os fatos a serem estudados de forma tal que esses não estejam isolados.

Deve-se partir da idéia de que há sempre uma correlação entre os acontecimentos, pois quanto mais são estudados os problemas de nossa época, mais se percebe que eles não podem ser entendidos isoladamente. Só assim se pode chegar a uma criticidade lógica, objetivo atrativo para o cientista.



3) Fale sobre o conhecimento científico e a sua diferenciação quanto ao senso comum.


Resposta: Primeira pergunta: O que é o senso comum? É todo um conjunto de aspectos da vida os quais são observados, porém com indiferença. A curiosidade e o espanto por questões rotineiras da experiência humana são colocadas de lado. Tudo isso ajuda a compor a mentalidade daqueles não-científicos constituída de certezas inquestionáveis, portanto, despossuídas de racionalidade.Com isso, podem-se extrair algumas características do senso comum.


Boa parte delas deve-se ao subjetivismo da observação das coisas, isto é, são derivadas do individualismo de algumas pessoas ou grupo de pessoas ao analisar determinadas situações. Portanto, além de subjetiva, a noção comum apresenta-se como qualitativa, pois há julgamento pessoal no olhar; é heterogênea, pois não enxergam uma universalização de acontecimentos aparentemente diferentes; é individualizadora como já foi dito; é generalizadora, pois procura explicar acontecimentos pressupostamente semelhantes através de uma só idéia; as relações de causa e efeito são assimiladas pela “lógica”, deste modo, não questionadas; há uma falta de curiosidade, de admiração, de surpresa com aquilo que aparenta ser constante, regular.

Entretanto, o que acontece é que a parte de causar espanto só aparece para fatos nunca vistos.

Segunda pergunta: O que é ter conhecimento científico? O conhecimento científico se contrapõe a todos estes pragmatismos expostos pelo senso comum. Ao contrário do subjetivismo, ocorre um objetivismo na tentativa de escapar dos posicionamentos individuais para explicar as coisas. A ciência é quantitativa e não qualitativa, pois deseja alcançar critérios rigorosos de análise através de medidas e padrões; é homogênea, pois pretende buscar leis universais da mecânica dos fenômenos, mesmo para os que parecem diferentes. Assim como o senso comum, o cientista também é generalizador; é diferenciador; somente estabelece relações de causa e efeito após investigação do esqueleto dos fatos em estudo, porém não por imposições qualitativas.Além de outros aspectos os quais o pensamento comum e o científico entram em choque, percebe-se que o cientificismo procura os caminhos a serem traçados com o intuito de libertação intelectual, em outras palavras, objetiva uma metodologia de fuga do medo e das superstições através do conhecimento. O cientista se distingue do senso comum resumidamente porque este se baseia em tradições, conceitos, hábitos e opiniões bem cristalizadas, já a ciência tem ambasamento em pesquisas, provas, etc. o uso da razão é a marca do conhecimento científico.



4)Fale sobre a religião e a sua relação com o homem e com a cultura.


Resposta: Historicamente, pode-se dizer que a religião forma um dos pilares de significância singular nas relações humanas. As formas variadas de religião procuram adotar um método de ligação, um vínculo entre aquilo que foi considerado profano e o que foi considerado sagrado. Normalmente o sagrado representa tudo aquilo que é inalcançável somente com o uso da força ou potência da condição humana. O profano então seria tudo aquilo relacionado diretamente ao ser humano, de imediata associação ao homem.


As crenças costumam agrupar homens através de valores e tradições em comum. Tradições estas vistas como complexos culturais arraigados por meio de ritos, para simbolizar os laços entre o mundo material e o espiritual, repetitivos através dos tempos, objetivando sempre perpetuar aquilo que foi consagrado numa primeira vez. Através de tais valores e tradições que são ditados os caminhos corretos (assim como as atitudes que não são bem-vindas de acordo com o que se crê) a serem tomados pelos membros seguidores. Portanto a cultura entra no contexto religioso: a cultura de uma comunidade procura espelhar-se às normas de convivência impostas pela religião.

As condutas individuais também tendem a atender às necessidades espirituais por intermédio, normalmente, do medo. O medo de castigos providenciados pelos deuses para aqueles que cometerem delitos, infringindo as leis das divindades. O conhecimento de tais leis, entretanto, pode constituir um novo patamar na sociedade. Um grupo de conhecedores, então, forma um também grupo de intelectuais, separados do restante da comunidade, especializados em eternizar os ensinamentos das narrativas da história do início da vida, considerada sagrada. Cria-se assim, uma nova hierarquia assimilada pelos indivíduos.

Resumindo, uma dada religião, de certa forma, molda o pensar e o sentir de seus seguidores; dita o bem e o mal, o certo e o errado; conta como se deu a origem das coisas e dos homens, operando o encantamento do mundo; simboliza rituais, imagens, lugares; forma autoridades etc. Tudo isso, portanto, constitui uma importância crucial na adaptação da cultura humana.



(Bia G.)

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Brasil Colonial I







1)Famílias e Vida Doméstica na Colônia.

A cultura da convivência entre familiares e amigos na Colônia, assim como em qualquer época ou localidade, é influenciada pelas condições econômicas, políticas e sociais vivenciadas.

Portanto, os elementos que marcaram profundamente a formação da sociedade brasileira e moldaram as práticas e os costumes solidamente constituídos no Reino eram: a distância da Metrópole que, por muitas vezes, separava membros de uma família e dificultava a transação de produtos da Europa para a América; a escravidão negra e indígena, a constante expansão do território; a precariedade de recursos.

Além do caráter estratificado da sociedade vigente, o qual implicava numa falta de padrões familiares semelhantes de vida e organização mesmo ao observar o cotidiano de uma mesma camada social.

Deve-se, então, buscar e recuperar os espaços de intimidade (em geral, os domicílios), analisando as atividades desenvolvidas em seu interior, a divisão de tais atividades entre os membros da família, objetivando o inteiramento mais real possível das formas de convívio e sociabilidade doméstica na Colônia.

2)A Família e o Domicílio

Estudar, pois, a vida doméstica compromete, por conseqüência, o estudo também do domicílio pelo fato de ser esse o espaço de convivência da intimidade, pois é exatamente no domicílio que observaremos as formas de interação com o meio natural, inovando nas formas de subsistência e conhecendo os laços afetivos dos colonos.

O casamento sacramentado possuiu um caráter peculiar no Brasil como projeto colonizador e representou uma correlação entre Igreja e Estado, atingindo primordialmente, porém, as elites ao conferir status social. Nas classes menos abastadas normalmente observava-se uniões consensuais.


No entanto, antes do século XVIII havia uma dificuldade de distinção entre o público e o privado devido a algumas características tais como exemplos: um território pouquíssimo povoado e as grandes distâncias entre uma morada e outra. Com a efetiva povoação, não só houve uma transformação na vida colonial, como também ocorreu uma sofisticação em certos lugares a exemplo dos costumes trazidos pelos emigrados e pelas travessias mais freqüentes.


3)A Morada Colonial e os Espaços de Intimidade

A arquitetura das moradas, ao menos nos primeiros três séculos de colonização, apresentava-se bastante rústica devido à falta de recursos dos habitantes, assim como o caráter passageiro das estadias dos proprietários de sítios e fazendas. Desse modo, nota-se uma regularidade nas construções urbanas como sendo casas pequenas com o predomínio do barro e da madeira ou pedras. Havia uma forte influência indígena na adaptação dos colonos quanto à forma de morar. Em contraposição das edificações urbanas, a falta de uniformidade já foi característica das propriedades rurais.

Os anexos às casas coloniais como jardins, pomares e hortas, normalmente eram circundados por muros baixos, delimitando o espaço domiciliar. Existia ainda a casa da farinha, o monjolo ou moenda. Tais áreas representavam as dependências voltadas para a produção de alimentos básicos para subsistência onde se passava a maior parte do tempo, principalmente as mulheres da casa.


Devido ao clima quente e as poucas portas e janelas presentes, as famílias procuravam as partes mais externas das casas, seja nos momentos de lazer seja nos de trabalho. Nas moradias mais amplas e abastadas, estas áreas também serviam de espaço para as refeições. Conclui-se, assim, que a vida doméstica era mais voltada para o exterior das edificações onde se vivia mais intensamente.




4)Os Interiores da Casa: Em Busca de uma Intimidade.

A diferença básica entre as construções dos homens mais pobres e livres e as edificações dos que dispunham de algumas posses se concentrava no caráter da privacidade. Enquanto nas primeiras havia um reduzido número de cômodos, o que não deixa dúvidas a respeito da superposição de funções e atividades desses, observa-se, desse modo, uma falta de privacidade. Já nas últimas, a presença de mais cômodos, normalmente postos em uma fileira (padrão geral para quase todo o país), permite uma maior privacidade.


Entretanto, esta intimidade das casas mais abastadas possuía um limite, apesar dos espaços bem definidos para mulheres, hóspedes e escravos, além de salas e aposentos destinados à atividades específicas, pois era comum entre os quartos haver uma comunicação.
Somente em meados do século XVIII, devido uma maior mobilidade social que as bandeiras e entradas propiciavam e o crescimento das cidades, é que os colonos se preocuparão melhor com a questão da intimidade.


Embora existissem muitas diferenças das formas de moradia entre as regiões do Brasil colonial (São Paulo, por exemplo, era bastante precária em relação ao Nordeste açucareiro), no que tange à questão do mobiliário das casas, segundo as fontes de depoimentos colhidos, predominava uma forte modéstia, característica que persistiu por séculos. Havia poucas cadeiras, uma ou duas mesas com seus bancos e algumas caixas e baús. Com a constância da superposição das funções nos cômodos, também existiam raras camas de dormir, entretanto constam-se redes de dormir pelas suas praticidades. O suprimento mobiliário, ao menos para as casas mais abastadas, só começou a aparecer no início do século XIX nos portos de Recife, Bahia e Rio de Janeiro.

Existia uma comunicação direta entre as residências por onde se faziam visitas sem cerimônia, uma prática corriqueira, não delimitando, desse modo, os limites de intimidades entre as famílias. Mudanças em prol de uma ordenação da disposição espacial dentro e fora das casas só serão possíveis com a formulação de novas regras de conduta e de pudor.

Tenta-se explicar o primitivismo da maioria dos lares coloniais atribuindo tal característica ao trabalho árduo pelo qual passavam os colonos, o que não deixava muito tempo livre para se pensar em mordomias da moradia.



5)Formas de Sociabilidade no Ambiente Doméstico.


Como já foi dito, os espaços exteriores às casas eram os locais onde se tinha uma maior intensidade, isto é, eram os principais locais de sociabilidade da vida doméstica. A interação social era intensificada pelas festas religiosas e as festas em homenagem à família real e às autoridades civis e eclesiásticas, sendo estas últimas em menor número. Nelas participavam não somente os moradores do núcleo urbano, mas também aqueles interioranos dos sítios e fazendas dos arredores ou, até mesmo, de lugares mais distantes.




Juntando a isso, ainda existia a característica marcante dos brasileiros: a questão da hospitalidade. Tinha-se o costume de hospedar viajantes e forasteiros, às vezes o único contato com o mundo exterior que os colonos das áreas mais afastadas desfrutavam.
Jogos como baralhos e tabuleiros de xadrez e gamão também são vistos como formas de sociabilidade entre familiares e amigos. A inquisição, inclusive agiu sobre vários indivíduos acusados de blasfemarem enquanto jogavam.



Apesar de não ser um hábito tão difundido devido a maior parte de a população ser iletrada até o início do século XIX, a leitura em voz alta ou silenciosa também era uma forma de compartilhar a intimidade e o convívio familiar.

Na Colônia se valorizava bastante as visitas, muitas vezes tornando-as, entre os membros das camadas mais altas, alegres reuniões nas quais se dançava, jogava, conversava com muita animação em meio a uma fartura de comes e bebes.

6)Costumes domésticos.

Os costumes domésticos nos primeiros séculos de colonização foram influenciados principalmente pelo fato da distância da Metrópole o que dificultava as embarcações, atrasando as frotas. Com isso, então, para conseguir sobreviver sem vinho, trigo ou sal durante meses, os colonos tiveram, em primeira instância, a aprender com os próprios gentios da terra a se protegerem do clima e dos animais, a preparar os alimentos disponíveis, a fabricar utensílios e a explorar as matas. As índias assumiram o lugar das mulheres brancas, pela falta dessas, ensinando a socar o milho, a preparar a mandioca, a trançar as fibras, a fazer redes e a moldar o barro.

A importância do trabalho feminino era enfatizado pela esfera doméstica, mas não ficou restrito à esfera doméstica, pois até nas bandeiras ela compartilhavam com os homens inúmeras aventuras e o trabalho do dia-a-dia. Elas preveniam o ataque de insetos preparando mosquiteiros e defumando a casa ao anoitecer, comandavam as escravas e os índios domésticos além de grande parte da indústria caseira. Através do trabalho manual também se fabricavam utensílios domésticos como almofadas e travesseiros recheados de penas, lã ou lanugem etc. Também era trabalho feminino.
Não havia o costume de se usar talheres nas refeições. O comum era comer com as mãos em qualquer classe social, mesmo que os convidados fossem finos. O requinte de bandejas de prata era raro! O que se tinha, normalmente, eram louças de barro. Servia-se as refeições ao redor de uma mesa baixa ou muito freqüentemente de uma esteira estendida no chão, sem o conforto de cadeiras.

Os alimentos principais da dieta dos colonos durante séculos foram: a farinha de mandioca, carne-seca, rapadura, arroz, feijão e milho.





7)Trabalho e Atividades no Interior do Domicílio.

A escravidão e a falta de produtos estimularam a produção doméstica e marcaram profundamente as atividades dos colonos no interior dos domicílios e sua rotina cotidiana. Havia, assim, uma tendência à auto-suficiência tanto nos sítios como nas grandes propriedades. A produção em pequenas quantidades, porém para consumo interno da propriedade, era efetuada a partir de técnicas mais primitivas e trabalhosas.

A fiação e a tecelagem, por exemplo, produziam um pano grosseiro tanto para o vestuário dos escravos como roupas caseiras do dia-a-dia. Também se fabricava as redes de uso bastante comum. Entretanto, a tecelagem representava um trabalho fatigante, vagaroso e pouco valorizado, inclusive na Metrópole. Com o avançar dos tempos, alguns produtos já podiam ser adquiridos, porém outros ainda necessitavam ser produzidos em casa.

A falta de moedas impulsionou uma economia de trocas nos primeiros tempos na qual porcos e galinhas, algodão e farinha eram bastante valorizados e usados como dinheiro.
Aqui entra mais uma vez o papel dos índios na adaptação dos colonos cujas técnicas para se fazer cerâmicas e cestarias foram apreendidos pelos gentios. Ainda destinados ao consumo doméstico e ao asseio da casa, fabricava-se sabão com cinzas de vegetais queimados.

Na vida doméstica na Colônia, trabalho e lazer confundiam-se no dia-a-dia dos colonos, a exemplo dos senhores, que, enquanto administravam seus negócios e cuidavam do funcionamento da casa, dedicavam-se a outras atividades, algumas delas manuais.


(Bia G. e Mari N.)- Baseado na obra "História da Vida Privada no Brasil", de Fernando Novais.
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Metafísica II






Aos que virão depois de nós

I

Eu vivo em tempos sombrios.
Uma linguagem sem malícia é sinal de estupidez,
uma testa sem rugas é sinal de indiferença.
Aquele que ainda ri é porque ainda não recebeu a terrível notícia.

Que tempos são esses, quando
falar sobre flores é quase um crime.
Pois significa silenciar sobre tanta injustiça?
Aquele que cruza tranqüilamente a rua
já está então inacessível aos amigos
que se encontram necessitados?
É verdade: eu ainda ganho o bastante para viver.
Mas acreditem: é por acaso. Nado do que eu faço
Dá-me o direito de comer quando eu tenho fome.
Por acaso estou sendo poupado.
(Se a minha sorte me deixa estou perdido!)

Dizem-me: come e bebe! Fica feliz por teres o que tens!
Mas como é que posso comer e beber,
se a comida que eu como, eu tiro de quem tem fome?
se o copo de água que eu bebo, faz falta a quem tem sede?

Mas apesar disso, eu continuo comendo e bebendo.
Eu queria ser um sábio.
Nos livros antigos está escrito o que é a sabedoria:
Manter-se afastado dos problemas do mundo
e sem medo passar o tempo que se tem para viver na terra;

Seguir seu caminho sem violência,
pagar o mal com o bem,
não satisfazer os desejos, mas esquecê-los.
Sabedoria é isso!
Mas eu não consigo agir assim.
É verdade, eu vivo em tempos sombrios!

II

Eu vim para a cidade no tempo da desordem,
quando a fome reinava.
Eu vim para o convívio dos homens no tempo da revolta
e me revoltei ao lado deles.
Assim se passou o tempo
que me foi dado viver sobre a terra.
Eu comi o meu pão no meio das batalhas,
deitei-me entre os assassinos para dormir,
Fiz amor sem muita atenção
e não tive paciência com a natureza.
Assim se passou o tempo
que me foi dado viver sobre a terra.

III

Vocês, que vão emergir das ondas
em que nós perecemos,
pensem,
quando falarem das nossas fraquezas,
nos tempos sombrios
de que vocês tiveram a sorte de escapar.
Nós existíamos através da luta de classes,
mudando mais seguidamente de países que de sapatos,
desesperados!
quando só havia injustiça e não havia revolta.

Nós sabemos:
o ódio contra a baixeza
também endurece os rostos!
A cólera contra a injustiça
faz a voz ficar rouca!
Infelizmente, nós,
que queríamos preparar o caminho para a amizade,
não pudemos ser, nós mesmos, bons amigos.
Mas vocês, quando chegar o tempo
em que o homem seja amigo do homem,
pensem em nós
com um pouco de compreensão.

(Bertolt Brecht)-(1898-1956)-Dramaturgo e poeta alemão. Revolucionou o teatro com peças que visavam estimular o senso crítico e a consciência política do espectador.

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