A eleição para presidente, em 2010, foi um ringue.Demonstrou, claramente, a inexistência de um Estado Laico. Só não enxerga quem não quer.Assuntos polêmicos foram trazidos à superfície: aborto, casamento gay, pesquisas com células-tronco embrionárias.Por quê?
Porque houve uma movimentação efetiva dos segmentos pró-direitos, voltados para a construção da igualdade social.Finalmente, os políticos perceberam que os segmentos pró-direitos fazem barulho e possuem um papel determinante.
A sociedade foi polarizada: reacionários x progressistas.
E, novamente, religião misturou-se com política.
Moral misturou-se com planos de governo.
Gênero virou indicativo de capacidade.
Moral misturou-se com planos de governo.
Gênero virou indicativo de capacidade.
E se o PSDB estivesse no poder, hastearia a bandeira do completo retrocesso.Mas por que falar disso, agora, meses após as eleições, depois, inclusive, da posse?
Justamente porque essa eleição levantou a ira das camadas mais conservadoras. Não é coincidência o aumento de violência contra gays.Não é coincidência a tentativa de desqualificação de uma mulher no poder( só porque ela é mulher, e não pelo seu projeto de governo).A mídia parcial transpôs a idéia de permissividade.E a liberdade de expressão foi confundida com direito de ofender.
Aproveitando o momento de permissividade, os conservadores voltaram a empunhar a bandeira de bastião da moral.Voltaram a enaltecer a opressão do diferente.É o sistema impedindo que os conceitos, já cristalizados, sejam desarticuladas ou rearticuladas.
E farão tudo que for preciso para promover o engessamento dos papéis sociais.É a forma de acabar com a mobilidade dentro da sociedade.Para os conservadores, mulher tem um papel fundamental: o de criada sem remuneração. Então, tendo em vista esse desespero pela retomada do controle, imaginava uma tsunami de machismo contra a Dilma.
E hoje, nessas andanças pela net, deparei-me com montagens envolvendo o rosto da presidenta.As imagens foram criadas pelo site Fashion Dilma.Atentem para o nome fashion.O que é, de fato, ser fashion? Quem definiu o fashion?Por que ser fashion é algo tão relevante?E quem decidiu que o sonho de toda mulher é ser fashion, ou que só mulheres têm obrigação de ser?Isso é um elemento de segregação.
É mais uma ferramenta machista.Um total desrespeito.Pergunto: se fosse o Serra na presidência, haveria esse tipo de “brincadeira”?Não, não haveria.Não haveria porque ele é homem. Homens não sofrem essas tentativas de desmoralização pautada no padrão de “beleza”.Homens não passam por esse tipo de terrorismo, de sabotagem baixa.E por que ninguém questiona o padrão de beleza dos homens?
Porque eles construíram o sistema( para homens brancos e heterossexuais). Porque a maioria deles(e embora seja a maioria, ainda existem homens feministas; estes não fazem mais que a obrigação) beneficia-se com esse sistema.Não abririam mão dos privilégios.A manutenção do sistema legitima a mulher como algo não fundamental.Isso promove o controle e obriga a mulher a esquecer de si, alicerçando sua vida em torno dos quereres de um macho dominador(quando ela deveria prezar seu bem-estar).Mas é culpa das mulheres?Não.Elas são as vítimas.Não se pode transformar vítimas em algozes.Mas até isso o patriarcado promove.
Esse padrão das fotos funciona como um condicionamento do “feminino”.As mulheres são obrigadas a seguir o paradigma cristalizado pelo patriarcado.A idéia transmitida é que a mulher vale o que ela aparenta.Inteligência, competência, experiência, não importam.Se é uma mulher, a obrigação é de ser um adorno, um utensílio.O patriarcado permeia o conceito de mulher boa igual à mulher que não pensa, muito menos que se envolve em política.Sua única missão é servir ao macho alfa.Política não é coisa “feminina”.Política endurece as feições da mulher.E como a imagem vendida é de que todas devem ser puras, perfeitas, resignadas, maternais, não podem ser autônomas.Mulher forte também não é feminina.Mulher boa é a frágil, passível de dominação.Mulher, em cargo de poder, é desconstrução do machismo.E isso é inaceitável para o patriarcado.
Já disse, em outra postagem, que não me sinto representada, politicamente, pela Dilma, justamente por ela ser uma representante do PT.E nessa questão quanto às políticas públicas, não mudo minha opinião.Porém, isso não me faz fechar os olhos para esse machismo voraz.Isso não me impede de enxergar o óbvio.E não me faz compactuar com essa opressão premeditada.Há machistas na direita e na esquerda.Há machistas vestidos em peles de bom moço.Assim como existem mulheres machistas.
E, novamente, o ideal do feminino é permeado mundo a fora.Mas o que é o feminino?O que é o masculino? Quais as finalidades desses papéis?A quem favorece?Por que favorece?São perguntas pertinentes.É uma forma de iniciar a desarticulação dos papéis de gênero.Infelizmente, o sexismo está presente, inclusive, na educação.Isso dificulta a transformação social e a equidade entre homens e mulheres.É necessária a conscientização em massa.É para isso que o Feminismo existe.Enquanto existir subjugação da mulher, vai existir Feminismo.
Sobre essas montagens com as fotos da presidenta, penso ser só o início de um ataque machista.Imagino que mais coisas virão por aí.E não entendo como as pessoas acham engraçado as piadas que envolvem esse padrão de “beleza”.Esse padrão que segrega.Esse padrão que subjuga.Esse padrão que menospreza, que reduz as pessoas.Esse padrão que engole a vida de tantas mulheres.Um padrão doentio.Um padrão superficial.Algo que vai além do bem-estar.A necessidade viciante do parecer ao invés do ser.É um peso que recai sempre sobre a mulher.
Está na hora de parar de rir de tolices.É o momento de desarticulação.É o momento de transformação social.Está na hora de enxergar a realidade.Tirar a venda do comodismo.Homens e mulheres são iguais.Nem piores.Nem melhores.Nenhum com a obrigação de ser perfeito.Nenhum com o dever de manter a idéia distorcida de pureza.É preciso colocar essa isonomia em prática.
(Mari N.)
0 comentários:
Postar um comentário