A marcha das vadias de Fortaleza o desafio da mulher Aborto Livre Reflexão política no Brasil
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Cinema: Deus e o Diabo na Terra do Sol






A ficção Deus e o Diabo na Terra do Sol é uma obra brasileira, dirigida por Glauber Rocha, o longa-metragem preto e branco tem duração de 125 minutos; foi lançado em 10 de julho de 1964 no Rio de Janeiro.

O filme utiliza-se de personagens e fatos históricos concretos (o cangaço e o mandonismo local dos coronéis no Nordeste, o beatismo ou misticismo de base milenarista, a literatura de Cordel, Lampião e Corisco, Euclides da Cunha e Guimarães Rosa, Antônio Conselheiro e Antônio Pernambucano (jagunço ou assassino de encomenda de Vitória da Conquista).





A trama está dividida em três partes: primeiro a demonstração da vida sofrida do povo do sertão, depois mostra as duas formas que esse povo encontra p
ara sobreviver, o catolicismo e o cangaço.

O vaqueiro Manuel, depois de uma briga com o fazendeiro Moraes, mata-o e volta para sua casa, lá chegando encontra sua mulher Rosa e sua mãe a qual logo em seguida é morta pelos jagunços do fazendeiro Moraes; então Manuel foge com sua mulher para o auto do Morro Santo (lugar sagrado onde se promete a salvação através de um catolicismo ritual e místico) e se une aos seguidores do beato Sebastião.
Após presenciar a morte de uma criança para um ritual, Rosa mata o beato.Então o matador Antônio das Mortes contratado pela Igreja Católica para assassinar o beato, extermina os seus seguidores.

Novamente em fuga, Manuel e Rosa se unem a Corisco, (companheiro de Lampião que sobreviveu ao massacre do bando); sempre em busca de uma sobrevivência no sertão, agora pelo caminho do cangaço. Antônio das Mortes continua sua perseguição e acaba por matar e degolar Corisco, segue uma nova fuga de Manuel e Rosa, agora em direção ao mar.



O mais interessante nesse filme é a demonstração clara do sofrimento das pessoas que vivem no sertão nordestino seguindo fielmente a realidade e se baseando em fatos históricos. Observa-se também a inexistência de apelações a marcas ou a venda de produtos como podemos observar em muitos filmes que estão em exibição atualmente.

Segundo Pierre Bourdieu a cultura está em perigo graças a globalização e aos meios de comunicação que estão cada vez mais tentando homogeneizar a cultura em vista da obtenção exorbitante do lucro, diz o sociólogo: “ Como não enxergar que a lógica do lucro, sobretudo a curto prazo, é a estrita negação da cultura, que supõe investimentos a fundos perdidos, fadados a retornos incertos e não raro póstumos?”

É um ótimo filme para quem procura desvencilhar da alienação cultural que estamos submetidos diariamente.




O diretor Glauber de Andrade Rocha (Vitória da Conquista, 14 de março de 1939 — Rio de Janeiro, 22 de agosto de 1981) foi um cineasta brasileiro e também ator e escritor. Entre suas obras de destaque podemos citar: Deus e o Diabo na Terra do Sol, Terra em Transe e O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro.









Dulcinea de Carvalho,21, estudante de Jornalismo, amante de filmes, literatura,música, arte em geral , história e uma escritora-amadora-compulsiva.
Leia mais textos dela em :
http://www.suspirosdecarvalho.blogspot.com/

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Os gatos

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Antropologia




Somente no final do século XVIII, iniciou-se a construção de um pensamento científico que tem o ser humano como objeto de estudo.Porém, sua legitimação só veio na segunda metade do século XIX.O objeto empírico adotado foi as sociedades “primitivas”.O ser humano deixou de ser o fomentador do conhecimento, das elaborações teóricas, e passou a ser o objeto passível de análises.
Não existe uma definição estrutural para a Antropologia.É uma área abrangente, que traz valores diversificados.De uma forma direta, pode-se dizer que Antropologia é o estudo do ser humano como ser biológico, cultural e social.Vale salientar que existem outros fatores além desses.Insere-se, também, nessa definição, o estudo comparado, que é baseado nas diferenças culturais.É, sobretudo, uma ciência que investiga as origens, o desenvolvimento, as semelhanças, as diferenças, as evoluções,as involuções, das sociedades humanas.


O antropólogo





Geralmente, o antropólogo tem, como papel fundamental, a investigação das diversas formas de desenvolvimento comportamental humano, com o objetivo de descrever, integralmente, os fenômenos sócio-culturais.Eles procuram perceber a realidade humana através da análise dos mecanismos de relacionamento e as formas de organização social.



Estudo do homem(é, eu me incomodo com o machismo linguístico.Fica parecendo que só homens são seres humanos.Inclua mulher aqui também, afinal, não somos andróides):

*Estudo do homem por inteiro:

- Antropologia Biológica: estuda as transformações das características biológicas ligadas ao ser humano ao longo do tempo e em um determinado espaço.
-Antropologia Pré-Histórica: estuda o ser humano através dos vestígios materiais.O objetivo principal é a reconstrução da produção cultural, social e artística das sociedades já desaparecidas.
-Antropologia Lingüística: estuda como o homem interpreta o seu saber, o seu universo, o seu meio social.Com base nisso, pode-se externar os valores que definem aquela sociedade.
-Antropologia Psicológica: compreensão da totalidade do ser humano através dos comportamentos conscientes e inconscientes.Trabalha com o processo de funcionamento da mente.
-Antropologia Social( focada nas instituições) e Cultural(manifestações comportamentais coletivas) - (Etnologia) : refere-se a tudo que constitui a sociedade, desde a produção econômica até a produção artística.Articulação desses aspectos dentro da sociedade.



Análises


O trabalho de campo antropológico tomando como base as idéias de Malinowski



Com o objetivo de organizar algumas regras metodológicas para uma pesquisa de campo antropológica que se diferenciasse do trabalho de autores antigos, ou seja, que esta pesquisa constituísse objetivos genuinamente científicos, Malinowski propõe que o etnólogo precisa conhecer os valores e critérios da etnografia moderna. É característica da etnografia o dever do pesquisador de percorrer a imensa distância entre o material bruto coletado na vida em campo através de suas próprias observações e a apresentação final dos resultados da pesquisa.

Entre os métodos sugeridos para a coleta do material etnográfico seria a questão da apresentação da pesquisa científica de maneira clara e absolutamente honesta. Assim sendo, o etnólogo deve ter o compromisso como profissional do ramo do conhecimento humano (compromisso este também com os seus leitores) de mostrar resultados baseados em verdades coletadas em campo e que revelem algo a respeito de experiências concretas, levando-o às suas conclusões.
O trabalho etnográfico final, portanto, não pode ser “inventada” nem conter mentiras ou noções distorcidas da realidade.

A partir da descrição abordada, concluo que esta questão foi importantíssima para a construção da metodologia antropológica do trabalho em campo na medida em que procurou uma nova alternativa de pesquisa moderna em detrimento das formas de abordagem da vida nativa dos autores antigos. Desse modo, Malinowski ajudou a danificar aquela noção ultrapassada do agente etnológico colocar-se como preconceituoso, de opiniões já sedimentadas, menosprezando o que o autor chama de tesouro científico: basicamente as peculiaridades mentais e culturais dos nativos.

Outra questão evidenciada no método de Malinowski seria a de que o pesquisador necessita asseverar boas condições de trabalho as quais, para o autor, seria resumidamente viver entre os nativos (observação participante).Para tanto, o etnólogo precisa seguir algumas condições: ele deve se afastar das influências de outros brancos e se desprender ao máximo de sua própria cultura ocidentalizada. Entretanto, isso só é possível acampando dentro das respectivas aldeias, mantendo apenas uma base a qual serve de refúgio branco nos momentos depressivos ou de doença e ainda em casos de exaustão da vida nativa.

De acordo com este conceito de boas condições de trabalho, a vida ativa na aldeia provoca um relacionamento natural com os habitantes da comunidade. Constituindo esta naturalidade na convivência, o antropólogo pode então conhecer e familiarizar-se com os costumes e crenças de modo muito melhor do que quando se relaciona esporadicamente com os nativos.

Ao demonstrar interesse pessoal por acontecimentos importantes na vida tribal, como uma festa ou fato peculiar, o etnógrafo consegue desvendar as regras e regularidades dos costumes nativos e, desse modo, pode produzir um esboço claro e minucioso da estrutura nativa.

Concluindo sob meu ponto de vista, este segundo método de investigação antropológica tem a sua relevância no que tange a forma de como o pesquisador busca o seu material etnográfico dentro das próprias aldeias e este fato se sobressai perante o método dos antigos, com uma importância especial, pois o etnógrafo tem a oportunidade de sentir as instituições presentes na aldeia e, assim, produzir um trabalho melhor elaborado.

Uma terceira abordagem a ser feita na metodologia de Malinowski seria a de conhecer o que o autor chama de os imponderáveis da vida real. Ele dá uma devida magnitude no tocante do levantamento exaustivo de dados bem detalhados e, a partir disto, dispor os resultados obtidos na forma de um quadro sinótico, apresentando o esboço da sociedade observada e utilizando como instrumento de estudos (método de documentação estatística por evidência concreta).

Contudo, tal levantamento de dados ainda não consegue perceber ou imaginar de fato a realidade da vida nativa, pois até mesmo os relatos de informantes podem não condizerem com a realidade propriamente dita. Na solução desse problema, o pesquisador através da observação pertinente dos costumes, cerimônias, transações, crenças etc., tal quais os nativos realmente vivem. Assim, o etnógrafo tem acesso aos fenômenos mais essenciais do íntimo da realidade nativa.

Diante dessa caracterização, posso compreender que os imponderáveis da vida real são complementos indispensáveis no trabalho de campo na medida em que somente o auxílio de questionários ou documentos estatísticos não consegue chegar de fato à plena realidade.




Analise do trabalho antropológico em Roberto Cardoso de Oliveira.



Na composição de sua metodologia no trabalho de campo antropológico, Roberto Cardoso de Oliveira prioriza três aspectos fundamentais para o pesquisador, abrangendo o caráter construtivo da percepção dos atos cognitivos, ou seja, dos atos que envolvem os sentidos do olhar, do ouvir e do escrever. Estes sentidos são tidos como etapas para a apreensão dos fenômenos sociais, tomando-as com o objetivo de questioná-las. Sendo assim, o etnógrafo exerce uma função de reflexão no exercício da pesquisa e da produção de conhecimentos. O autor mostra que tais etapas, embora pareçam triviais, a ponto de serem até banalizados e esquecidos no trabalho em campo, assumem um sentido particular, pois é com eles que se constrói o saber.

A primeira etapa, ou primeira experiência do etnólogo tem como característica a domesticação teórica de seu olhar. Tal domesticação ocorre a partir de um direcionamento do olhar em certo objeto e, desse modo, altera-o pelo próprio esquema conceitual da nossa forma de visualizar a realidade disciplinada academicamente, através de sua “bagagem” teórica.

O embasamento teórico que o pesquisador carrega entra nesse processo, pois sensibiliza o seu olhar e, assim, uma realidade ou característica cultural nativa não é mais vista com ingenuidade ou como uma mera curiosidade perante o exótico. Portanto, o olhar devidamente treinado tem a função de observar as características culturais essenciais à vida nativa. Também consegue enxergar processos de mudança cultural ou de aculturação.

Fundamentando-me nos aspectos apresentados pelo autor para descrever esta primeira percepção da comunidade, posso argumentar a respeito da magnitude do olhar inerente ao trabalho do antropólogo, porém deve-se agregá-lo às demais fontes de sentidos propostas (ele não pode ter independência). Justificando isto, o uso apenas do olhar ainda não é suficiente para dá significado completo das relações sociais, as estruturas mais importantes das sociedades ágrafas: as teorias de parentesco.

Diante da problemática, Roberto Cardoso de Oliveira sugere que o etnógrafo deve se valer ainda do ouvir. Para ele, o olhar e o ouvir estão intimamente ligados, indissociáveis e até compara essas duas “faculdades” como sendo duas muletas para o antropólogo. Porém, a singularidade do ouvir reside na sua serventia de eliminar os sons insignificantes ou desprezíveis para o corpus teórico da disciplina.

O autor aborda, então, a pertinência de uma entrevista concedida pelo etnólogo aos nativos por meio da qual o pesquisador obtém informações que somente a observação não alcança. Isso tem embasamento na medida em que ao se observar, por exemplo, um ritual, ainda parece inútil sem o entendimento das idéias que a sustentam. É necessária a retenção de explicações fornecidas pelos próprios habitantes da comunidade, ou seja, a descrição através do “modelo nativo”.A entrevista deve conter o confronto entre os dois mundos no contexto entre entrevistador e entrevistado, ou seja, entre o europeu e o americano.

Contudo, esta relação de confronto envolve condições bastante delicadas. Tal relação, traduzida como não dialógica, é criticada ainda por Roberto Cardoso de Oliveira. A caracterização de falso diálogo funciona quando se empobrece o ato cognitivo, pois, no ato da entrevista, força respostas pontuais através da autoridade imposta de quem faz as perguntas. A solução para esta problemática é a alternância entre informante e “interlocutor”, promovendo um encontro etnográfico na medida em que os horizontes semânticos dos dois mundos se encontram com a condição de que o pesquisador tenha a sensibilidade/habilidade de ouvir o nativo e por ele ser igualmente ouvido, colocando os dois num mesmo patamar etnológico.

A partir dos relatos do autor sobre o ouvir, posso falar que este realmente deve se colocar como inerente ao primeiro sentido: o olhar no ato de perceber e entender as relações reais da sociedade estudada, porém tomando os devidos cuidados para o trabalho não tornar-se intimista, o que prejudicaria a pesquisa.

Já o escrever é apontado como configuração final do produto do trabalho de campo. Porém, o olhar e o ouvir constituem a realidade focalizada na pesquisa empírica e o escrever está associado com o ato de pensar. Citando Clifford Geertz com seu livro Trabalhos e vidas: o antropólogo como autor, Roberto Cardoso de Oliveira avalia duas etapas da investigação empírica: o “estando lá”, ou seja, a vivência do estar em campo nativo e o “estando aqui” que corresponde aos trabalhos do pesquisador estando em ambiente urbano, dentro de seu gabinete, longe das aldeias. Resumindo, o olhar e o ouvir fariam parte de uma primeira etapa e o escrever seria a segunda.

É através do escrever que realizamos as interpretações baseadas no nosso próprio bom-senso e por conceitos básicos da disciplina. Contudo, no contexto do being here, essas interpretações sofrem uma nova “refração” no âmbito do lembrar do antropólogo.
A definição de “representação do trabalho de campo em textos” caracteriza a singularidade do texto etnográfico ao se buscar uma articulação entre o trabalho de campo e a construção do texto.

Os artigos e as teses acadêmicas, em relação à monografia, devem ser escritos intermediários. Nas monografias modernas priorizam-se temas centrais através da qual toda a cultura passa a ser descrita, analisada e interpretada. Enquanto nas clássicas, existe uma divisão das peculiaridades da sociedade analisada como em capítulos de uma narrativa.

Existe ainda um terceiro tipo de monografia: as pós-modernas. Estas demonstram desprezo à necessidade de controle dos dados etnográficos o que provoca em um detrimento do próprio paradigma hermenêutico.
É evidente que num trabalho etnográfico há uma pluralidade de vozes. Vozes estas articuladas entre o pesquisador e os habitantes nativos (antropologia polifônica). É responsabilidade do antropólogo distinguir claramente tais vozes sem impor um caráter autoritário e intimista.

Para concluir, coloco a importância do ato de escrever como sendo a textualização dos dados provenientes da observação em campo, procurando soluções normalmente ainda não imaginadas antes de tal ato.






Paralelo entre as reflexões de Roberto Cardoso de Oliveira e Kleber Saraiva em relação à pesquisa de campo antropológica.




Kleber Saraiva, ao escrever, faz reflexões a respeito de sua metodologia e a compara com os escritos de Roberto C. de Oliveira. Desse modo, ele faz citações deste último, abordando as principais regras, de acordo com a concepção de Oliveira, ou seja, o uso dos instrumentos sensoriais da visão e da audição no momento da observação participante e que constituem o primeiro momento do trabalho do antropólogo.

A domesticação destes sentidos também entra no contexto da observação participante a partir da importância da teoria social já existente sobre os acontecimentos a serem analisados. Essa carga teórica a qual deve ser acompanhada pelo etnólogo deve ser anterior ao primeiro passo deste em seu trabalho em campo.
Saraiva faz alusão a todos estes fenômenos e os considera inteiramente pertinentes para o trabalho do pesquisador no que tange os efeitos dos resultados decorrentes do olhar e do ouvir, aplicando melhores oportunidades para a consumição das situações sociais observadas pelo cientista.

Porém, por outro lado, o autor de Sobre os papéis do corpo na pesquisa de campo antropológica, como o próprio nome pode transmitir para uma auto-explicação, o fato do olhar e do ouvir, por si só, ainda não pode levar à completude do entendimento real dos acontecimentos sociais concebidos em campo. Para ele, esses únicos métodos, tidos como regras para Oliveira, podem gerar um quadro vicioso na medida em que são colocados como expressão absoluta, pois tende a insensibilizar a ação etnográfica, supervalorizando o que se conhece teoricamente e limitando o pesquisador ao uso restrito da visão e da audição.

Assim, esses dois sentidos apenas devem ser tomados como guias parciais do pesquisador. Não atendendo a esse procedimento, pode ocorrer um aprisionamento metodológico.

Na proposta de Kleber Saraiva, são dados dois exemplos por ele elaborados: um relacionado à sua experiência vivida em campo com os índios Jenipapo-Kanindé e outro relativo ao ensaio de Glória Diógenes.

Descrevendo a pesquisa com os índios, o autor infere em muitos processos de observação da comunidade, apenas a mecanização do olhar e do ouvir não era suficiente na sensibilização do entendimento dos habitantes da região. Observou a necessidade de relativização dos conceitos como “longo”, “curto”, “estreito” e “largo” e o uso de vários outros sentidos além da visão e da audição.

Glória Diógenes procurou trabalhar com a violência nas gangues e o estudo dos movimentos de hip hop da cidade de Fortaleza nos quais teve de reelaborar os conceitos metodológicos para chegar à apreensão da mentalidade de tais movimentos. Assim, ela observou que apenas pelo ouvir não era possível uma comunicação completa com os entrevistados, afinal eles possuíam uma forma de interação singular.

Concluindo, as ideias de Saraiva estão, resumidamente, atreladas ao uso dos sentidos humanos em sua multiplicidade e manifestações possíveis, permitindo que o cientista possa estar livre para perceber o que realmente é relevante na sua pesquisa e confiando na sua intuição. Nesse sentido, a crítica se encontra através do que Roberto Cardoso de Oliveira impõe com seus métodos estáticos dentro da Antropologia.




(Mari N.) e (Bia G.)
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Metafísica IV




Antônio Gonçalves da Silva, mais conhecido como Patativa do Assaré (Assaré, Ceará, 5 de março de 1909 — 8 de julho de 2002), foi um poeta popular, compositor, cantor e improvisador brasileiro.




A Triste Partida


Passou-se setembro
outubro e novembro
estamos em dezembro
meu Deus que é de nós?
assim diz o pobre
do seco Nordeste
com medo da peste
e da fome feroz

A treze do mês
fez a experiência
perdeu sua crença
nas pedras de sal
com outra experiência
de novo se agarra
esperando a barra
do alegre Natal

Passou-se o Natal
e a barra não veio
o sol tão vermeio
nasceu muito além
na copa da mata
buzina a cigarra
ninguém vê a barra
pois barra não tem

Sem chuva na terra
descamba janeiro
até fevereiro
no mesmo verão
reclama o roceiro
dizendo consigo:
meu Deus é castigo
não chove mais não

Apela pra março
o mês preferido
do santo querido
senhor São José
sem chuva na terra
está tudo sem jeito
lhe foge do peito
o resto da fé

Assim diz o velho
sigo noutra trilha
convida a família
e começa a dizer:
Eu vendo o burro
o jumento e o cavalo
nós vamos a São Paulo
viver ou morrer

Nós vamos a São Paulo
que a coisa está feita
por terra alheia
nós vamos vagar
se o nosso destino
não for tão mesquinho
pro mesmo cantinho
nós torna a voltar

Venderam o burro
jumento e cavalo
até mesmo o galo
venderam também
e logo aparece
um feliz fazendeiro
por pouco dinheiro
lhe compra o que tem

Em cima do carro
se junta a família
chega o triste dia
já vão viajar
a seca é terrível
que tudo devora
lhe bota pra fora
do torrão natá

No segundo dia
já tudo enfadado
o carro embalado
veloz a correr
o pai de família
triste e pesaroso
um filho choroso
começa a dizer

De pena e saudade
papai, sei que morro
meu pobre cachorro
quem dá de comer?
E outro responde:
Mamãe, o meu gato
da fome e maltrato
mimi vai morrer

A mais pequenina
tremendo de medo
mamãe, meu brinquedo
e meu pé de fulô
a minha roseira
sem água ela seca
e minha boneca
também lá ficou

Assim vão deixando
com choro e gemido
seu norte querido
um céu lindo azul
o pai de família
nos filhos pensando
o carro rodando
na estrada do sul

O carro embalado
no topo da serra
olhando pra terra
seu berço seu lar
aquele nortista
partido de pena
de longe acena
adeus, Ceará

Chegaram em São Paulo
sem cobre e quebrado
o pobre acanhado
procura um patrão
só vê cara feia
de uma estranha gente
tudo é diferente
do caro torrão

Trabalha um ano
dois anos mais anos
e sempre no plano
de um dia inda vim
o pai de família
triste maldizendo
assim vão sofrendo
tormento sem fim

O pai de família
ali vive preso
sofrendo desprezo
e devendo ao patrão
o tempo passando
vai dia e vem dia
aquela família
não volta mais não

Se por acaso um dia
ele tem por sorte
notícia do Norte
o gosto de ouvir
saudade no peito
lhe bate de molhos
as águas dos olhos
começam a cair

Distante da terra
tão seca mas boa
sujeito à garoa
à lama e ao paul
é triste se ver
um nortista tão bravo
viver sendo escravo
na terra do Sul.











Brosogó, Militão e o Diabo


O melhor da nossa vida
É paz, amor e união
E em cada semelhante
A gente ver um irmão
E apresentar para todos
O papel da gratidão

Quem faz um grande favor
Mesmo desinteressado
Por onde quer que ele ande
Leva um tesouro guardado
E um dia sem esperar
Será bem recompensado

Em um dos nossos estados
Do nordeste brasileiro
Nasceu Chico Brosogó
Era ele um miçangueiro
Que é o mesmo camelô
Lá no Rio de Janeiro

Brosogó era ingênuo
Não tinha filosofia
Mas tinha de honestidade
A maior sabedoria
Sempre vendendo ambulante
A sua mercadoria

Em uma destas viagens
Numa certa região
Foi vender mercadoria
Na famosa habitação
De um fazendeiro malvado
Por nome de Militão

O ricaço Militão
Vivia a questionar
Toda sorte de trapaça
Era capaz de inventar
Vendo assim desta maneira
Sua riqueza aumentar

Brosogó naquele prédio
Não apurou um tostão
E como na mesma casa
Não lhe ofereceram pão
Comprou meia dúzia de ovos
Para sua refeição

Quando a meia dúzia de ovos
O Brosogó foi pagar
Faltou dinheiro miúdo
Para a paga efetuar
E ele entregou uma nota
Para o Militão trocar

O rico disse: ─ Eu não troco,
Vá com a mercadoria
Qualquer tempo você vem
Me pagar esta quantia
Mas peço que seja exato
E aqui me apareça um dia

Brosogó agradeceu
E achou o papel importante,
Sem saber que o Militão
Estava naquele instante
Semeando uma semente
Para colher mais adiante

Voltou muito satisfeito
Na sua vida pensando
Sempre arranjando fregueses
No lugar que ia passando
Vendo sua boa sorte
Melhorar de quando em quando

Brosogó no seu comércio
Tinha bons conhecimentos
Possuía com os lucros
Daqueles seus movimentos
Além de casas e terrenos
Meia dúzia de jumentos

De ano em ano ele fazia
Naquele seu patrimônio
Festejo religioso
No dia de Santo Antônio
Por ser o aniversário
Do seu feliz matrimônio

No festejo oferecia
Vela para São João
Santo Ambrósio, Santo Antônio
São Cosme e São Damião
Para ele qualquer santo
Dava a mesma proteção

Vela pra Santa Inês
E para Santa Luzia
São Jorge e São Benedito
São José e Santa Maria
Até que chegava à última
Das velas que possuía

Um certo dia voltando
Aquele bom sertanejo
Da viagem lucrativa
Com muito amor e desejo
Trouxe uma carga de velas
Para queimar no festejo

A casa naquela noite
Estava um belíssimo encanto
Se via velas acesas
Brilhando por todo canto
Porém sobraram três velas
Por faltar nome de santo

Era lindo a luminária
O quadro resplandecente
E o caboclo Brosogó
Procurava impaciente
Mas nem um nome de santo
Chegava na sua mente

Disse consigo: o Diabo!
Merece vela também
Se ele nunca me tentou
Para ofender a ninguém
Com certeza me respeita
Está me fazendo bem

Se eu fui um menino bom
Fui também um bom rapaz
E hoje sou pai de família
Gozando da mesma paz
Vou queimar estas três velas
Em tenção do satanás

Tudo aquilo Brosogó
Fez com naturalidade
Como o justo que apresenta
Amor e fraternidade
E as virtudes preciosas
De um coração sem maldade

Certo dia ele fazendo
Severa reflexão
Um exame rigoroso
Sobre a sua obrigação
Veio na mente os ovos
Que devia ao Militão

Viajou muito apressado
No seu jumento baixeiro
Sempre atravessando rio
E transpondo tabuleiro
Chegou no segundo dia
Na casa do trapaceiro

Foi chegando e foi desmontando
E logo que deu bom dia
Falou para o coronel
Com bastante cortesia:
Venho aqui pagar os ovos
Que fiquei devendo um dia

O Militão muito sério
Falou para o Brosogó
Para pagar esta dívida
Você vai ficar no pó
Mesmo que tenha recurso
Fica pobre como Jó

Me preste bem atenção
E ouça bem as razões minhas:
Aqueles ovos no choco
Iam tirar seis pintinhas
Mais tarde as mesmas seriam
Meia dúzia de galinhas

As seis galinhas botando,
Veja só o quanto dá
São quatrocentos e oitenta
Ninguém me reprovará
Pois a galinha aqui põe
De oito ovos pra lá

Preste atenção Brosogó
Sei que você não censura
Veja que grande vantagem
Veja que grande fartura
E veja o meu resultado
Só na primeira postura

Das quatrocentas e oitenta
Podia a gente tirar
Dos mesmos cento e cinquenta
Para no choco aplicar
Pois basta só vinte e cinco
Que é pra o ovo não gourar

Os trezentos e cinquenta
Que era a sobra eu vendia
Depressa, sem demora
Por uma boa quantia
Aqui, procurando ovos
Temos grande freguesia

Dos cento e cinquenta ovos
Sairiam com despacho
Cento e cinquenta pintinhas
Pois tenho certeza e acho
Que aqui no nosso terreiro
Não se cria pinto macho

Também não há prejuízo
Posso falar pra você
Que maracajá e raposa
Aqui a gente não vê
Também não há cobra preta
Gavião, nem saruê

Aqui de certas moléstias
A galinha nunca morre
Porque logo à medicina
Com urgência se recorre
Se o gogo aparecer
A empregada socorre

Veja bem, seu Brosogó
O quanto eu posso ganhar
Em um ano e sete meses
Que passou sem me pagar
A conta é de tal sorte
Que eu mesmo não sei somar

Vou chamar um matemático
Pra fazer o orçamento,
Embora você não faça
De uma vez o pagamento
Mesmo com mercadoria
Terreno, casa e jumento

Porém tenha paciência
Não precisa se queixar,
Você acaba o que tem
Mas vem comigo morar
E aqui, parceladamente,
Acaba de me pagar

E se achar que estou falando
Contra a sua natureza,
Procure um advogado
Pra fazer sua defesa,
Que o meu eu já tenho e conto
A vitória com certeza

Meu advogado é
Um doutor de posição
Pertencente à minha política
E nunca perdeu questão
E é candidato a prefeito
Para a futura eleição

O coronel Militão
Com engenho e petulância
Deixou o Brosogó
Na mais dura circunstância
Aproveitando do mesmo
Sua grande ignorância

Quinze dias foi o prazo
Para o Brosogó voltar
Presente ao advogado
Um documento assinar
E tudo o que possuía
Ao Militão entregar

O pobre voltou bem triste
Pensando a dizer consigo:
Eu durante a minha vida
Sempre fui um grande amigo,
Qual será o meu pecado
Para tão grande castigo?

Quando ia pensando assim
Avistou um cavaleiro
Bem montado e bem trajado
Na sombra de um juazeiro
O qual com modos fraternos
Perguntou ao miçangueiro:

Que tristeza é esta?
Que você tem, Brosogó?
O seu semblante apresenta
Aflição, pesar e dó,
Eu estou ao seu dispor,
Você não sofrerá só

Brosogó lhe contou tudo
E disse por sua vez
Que o coronel Militão
O trato com ele fez
Para às dez horas do dia
Na data quinze do mês

E disse o desconhecido:
Não tenha má impressão
No dia quinze eu irei
Resolver esta questão
Lhe defender da trapaça
Do ricaço Militão

Brosogó foi para casa
Alegre sem timidez
O que o homem lhe pediu
Ele satisfeito fez
E foi cumprir seu trato
No dia quinze do mês

Quando chegou encontrou
Todo povo aglomerado
Ele entrando deu bom dia
E falou bem animado
Dizendo que também tinha
Achado um advogado

Marcou o relógio dez horas
E sem o doutor chegar
Brosogó entristeceu
Silencioso a pensar
E o povo do Militão
Do coitado a criticar

Os puxa-sacos do rico
Com ares de mangação
Diziam: o miçangueiro
Vai-se arrasar na questão
Brosogó vai pagar caro
Os ovos do Militão

Estavam pilheriando
Quando se ouviu um tropel
Era um senhor elegante
Montado no seu corcel
Exibindo em um dos dedos
O anel de bacharel

Chegando disse aos ouvintes:
Fui no trato interrompido
Para cozinhar feijão
Porque muito tem chovido
E o meu pai em seu roçado
Só planta feijão cozido

Antes que o desconhecido
Com razão se desculpasse
Gritou o outro advogado:
Não desonre a nossa classe
Com essa grande mentira!
Feijão cozido não nasce

Respondeu o cavaleiro:
Esta mentira eu compus
Para fazer a defesa
É ela um foco de luz
Porque o ovo cozinhado
Sabemos que não produz

Assim que o desconhecido
Fez esta declaração
Houve um silêncio na sala
Foi grande a decepção
Para o povo da política
Do coronel Militão

Onde a verdade aparece
A mentira é destruída
Foi assim desta maneira
Que a questão foi resolvida
E o candidato político
Ficou de crista caída

Mentira contra mentira
Na reunião se deu
E foi por este motivo
Que a verdade apareceu
Somente o preço dos ovos
O Militão recebeu

Brosogó agradecendo
O favor que recebia
Respondeu o cavaleiro
Eu era que lhe devia
O valor daquelas velas
Que me ofereceu um dia

Eu sou o Diabo a quem todos
Chamam de monstro ruim
E só você neste mundo
Teve a bondade sem fim
De um dia queimar três velas
Oferecidas a mim

Quando disse estas palavras
No mesmo instante saiu
Adiante deu um pipoco
E pelo espaço sumiu
Porém pipoco baixinho
Que o Brosogó não ouviu

Caro leitor nesta estrofe
Não queira zombar de mim
Ninguém ouviu o estouro
Mas juro que foi assim
Pois toda história do Diabo
Tem um pipoco no fim

Sertanejo, este folheto
Eu quero lhe oferecer
Leia o mesmo com cuidado
E saiba compreender
Encerra muita mentira
Mas tem muito o que aprender

Bom leitor, tenha cuidado,
Vivem ainda entre nós
Milhares de Militões
Com o instinto feroz
Com traçadas e mentiras
Perseguindo os Brosogós.

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Os ataques machistas



A eleição para presidente, em 2010, foi um ringue.Demonstrou, claramente, a inexistência de um Estado Laico. Só não enxerga quem não quer.Assuntos polêmicos foram trazidos à superfície: aborto, casamento gay, pesquisas com células-tronco embrionárias.Por quê?

Porque houve uma movimentação efetiva dos segmentos pró-direitos, voltados para a construção da igualdade social.Finalmente, os políticos perceberam que os segmentos pró-direitos fazem barulho e possuem um papel determinante.


A sociedade foi polarizada: reacionários x progressistas.
E, novamente, religião misturou-se com política.
Moral misturou-se com planos de governo.
Gênero virou indicativo de capacidade.




E se o PSDB estivesse no poder, hastearia a bandeira do completo retrocesso.Mas por que falar disso, agora, meses após as eleições, depois, inclusive, da posse?



Justamente porque essa eleição levantou a ira das camadas mais conservadoras. Não é coincidência o aumento de violência contra gays.Não é coincidência a tentativa de desqualificação de uma mulher no poder( só porque ela é mulher, e não pelo seu projeto de governo).A mídia parcial transpôs a idéia de permissividade.E a liberdade de expressão foi confundida com direito de ofender.





Aproveitando o momento de permissividade, os conservadores voltaram a empunhar a bandeira de bastião da moral.Voltaram a enaltecer a opressão do diferente.É o sistema impedindo que os conceitos, já cristalizados, sejam desarticuladas ou rearticuladas.



E farão tudo que for preciso para promover o engessamento dos papéis sociais.É a forma de acabar com a mobilidade dentro da sociedade.Para os conservadores, mulher tem um papel fundamental: o de criada sem remuneração. Então, tendo em vista esse desespero pela retomada do controle, imaginava uma tsunami de machismo contra a Dilma.












E hoje, nessas andanças pela net, deparei-me com montagens envolvendo o rosto da presidenta.As imagens foram criadas pelo site Fashion Dilma.Atentem para o nome fashion.O que é, de fato, ser fashion? Quem definiu o fashion?Por que ser fashion é algo tão relevante?E quem decidiu que o sonho de toda mulher é ser fashion, ou que só mulheres têm obrigação de ser?Isso é um elemento de segregação.



É mais uma ferramenta machista.Um total desrespeito.Pergunto: se fosse o Serra na presidência, haveria esse tipo de “brincadeira”?Não, não haveria.Não haveria porque ele é homem. Homens não sofrem essas tentativas de desmoralização pautada no padrão de “beleza”.Homens não passam por esse tipo de terrorismo, de sabotagem baixa.E por que ninguém questiona o padrão de beleza dos homens?


Porque eles construíram o sistema( para homens brancos e heterossexuais). Porque a maioria deles(e embora seja a maioria, ainda existem homens feministas; estes não fazem mais que a obrigação) beneficia-se com esse sistema.Não abririam mão dos privilégios.A manutenção do sistema legitima a mulher como algo não fundamental.Isso promove o controle e obriga a mulher a esquecer de si, alicerçando sua vida em torno dos quereres de um macho dominador(quando ela deveria prezar seu bem-estar).Mas é culpa das mulheres?Não.Elas são as vítimas.Não se pode transformar vítimas em algozes.Mas até isso o patriarcado promove.






Esse padrão das fotos funciona como um condicionamento do “feminino”.As mulheres são obrigadas a seguir o paradigma cristalizado pelo patriarcado.A idéia transmitida é que a mulher vale o que ela aparenta.Inteligência, competência, experiência, não importam.Se é uma mulher, a obrigação é de ser um adorno, um utensílio.O patriarcado permeia o conceito de mulher boa igual à mulher que não pensa, muito menos que se envolve em política.Sua única missão é servir ao macho alfa.Política não é coisa “feminina”.Política endurece as feições da mulher.E como a imagem vendida é de que todas devem ser puras, perfeitas, resignadas, maternais, não podem ser autônomas.Mulher forte também não é feminina.Mulher boa é a frágil, passível de dominação.Mulher, em cargo de poder, é desconstrução do machismo.E isso é inaceitável para o patriarcado.



Já disse, em outra postagem, que não me sinto representada, politicamente, pela Dilma, justamente por ela ser uma representante do PT.E nessa questão quanto às políticas públicas, não mudo minha opinião.Porém, isso não me faz fechar os olhos para esse machismo voraz.Isso não me impede de enxergar o óbvio.E não me faz compactuar com essa opressão premeditada.Há machistas na direita e na esquerda.Há machistas vestidos em peles de bom moço.Assim como existem mulheres machistas.
E, novamente, o ideal do feminino é permeado mundo a fora.Mas o que é o feminino?O que é o masculino? Quais as finalidades desses papéis?A quem favorece?Por que favorece?São perguntas pertinentes.É uma forma de iniciar a desarticulação dos papéis de gênero.Infelizmente, o sexismo está presente, inclusive, na educação.Isso dificulta a transformação social e a equidade entre homens e mulheres.É necessária a conscientização em massa.É para isso que o Feminismo existe.Enquanto existir subjugação da mulher, vai existir Feminismo.





Sobre essas montagens com as fotos da presidenta, penso ser só o início de um ataque machista.Imagino que mais coisas virão por aí.E não entendo como as pessoas acham engraçado as piadas que envolvem esse padrão de “beleza”.Esse padrão que segrega.Esse padrão que subjuga.Esse padrão que menospreza, que reduz as pessoas.Esse padrão que engole a vida de tantas mulheres.Um padrão doentio.Um padrão superficial.Algo que vai além do bem-estar.A necessidade viciante do parecer ao invés do ser.É um peso que recai sempre sobre a mulher.




Está na hora de parar de rir de tolices.É o momento de desarticulação.É o momento de transformação social.Está na hora de enxergar a realidade.Tirar a venda do comodismo.Homens e mulheres são iguais.Nem piores.Nem melhores.Nenhum com a obrigação de ser perfeito.Nenhum com o dever de manter a idéia distorcida de pureza.É preciso colocar essa isonomia em prática.

(Mari N.)


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Peripécias de ano novo





Tudo começa no natal.Ou melhor, na véspera de natal.Aquela felicidade pulando nos galhos das árvores.Ruas abarrotadas de bandidos, preparados, em seu espírito natalino, para a ceia financeira.Supermercados entupidos de vítimas não tão vítimas.O comércio ajoelhando, aos seus pés, como anjo do mal, para endividar-lhe.Os pisca-piscas engatados nas janelas.Piscam tanto que nada iluminam.

Belíssimas cartinhas, com ortografia torta e reprodução de hieróglifos, são enviadas ao bom velhinho; o todo generoso Papai Noel(símbolo do consumismo), que mora no cruzamento do Pólo Norte com Alameda Nunca.
As dores, nas juntas, impedem-lhe de cumprir a sacrossanta missão: quebrar chaminés com renas voadoras.Porém, sabemos que isso só com efeito de alucinógenos.E como não somos Alice, nada de coelho branco, Papai Noel e Paulo Coelho para nós.



Nessa época do ano, as famílias reúnem-se.A hipocrisia, mais solicitada que Roberto Carlos no show da Globo, acompanha cada palavra que sai da boca daquela tia chata.Ou envolve cada repreensão do tio conservador.E, como não pode faltar em toda reunião familiar, tem sempre o primo que se acha a encarnação do Bill Gates.Você conta, mentalmente, de um a dez.


Não adianta.É quase a Guerra Fria.Paz armada.Você prepara a bomba nuclear.Seus pais riem orgasticamente.A tia de quase cem anos pergunta quando você vai casar.O tio religioso prega a Bíblia na varanda de casa.


O primo conta vantagem sobre alguma garota fantasma.E você já passou da contagem de cem.O pensamento latente é: fuja para as colinas.Mas você continua paradinha, quietinha, olhando para o relógio de cinco em cinco minutos.



E todos fingem amor.Claro, é o momento de perdão, reconciliação, retomada de laços.Tanto é assim que, basta entrar o ano novo, a primeira coisa, que o irmão do seu pai diz, é: “aquele mão-de-vaca ainda não pagou o dinheiro que me deve.Tem grana para gastar em festa de natal, mas não tem para pagar meu dinheiro”.Reconciliação sincera, não?Ninguém esquece o bolso.E o melhor é quando os amigos dos seus pais chegam à casa da família.Você não conhece ninguém.Contudo, eles, por alguma implicância reprimida, investigam se você os reconhece.Talvez, não atentem para o fato de que, nos seus três anos, identificar pessoas era tão importante quanto saber o nome dos quatro Beatles.E aproveitando o ensejo, sua mãe, incorporando o espírito político natalino, faz promessas que você não pode cumprir, como o de passar menos tempo no computador(cuidando do blog); iniciar uma dieta( se for gordinha); engordar alguns quilos( se for magrinha); passar em Medicina( mesmo você querendo Jornalismo); arrumar um casamento( ainda que você tenha nojo de compromisso).Mas eu não falarei mal do casamento porque, senão, alguém dirá que é coisa de feminista xiita que deseja destruir os lares com seus pensamentos anarquistas.





A música da Simone tocou dez vezes.Papai Noel embriagou-se em um bar qualquer da Rússia.Alguns tios já estão vendo Jesus nascer.Outros falam mal da vida alheia.Seus pais bancam o casal perfeito.Os fogos estouram.Vozes misturam-se. Gargalhadas.Reprimendas.Garrafas.As renas no céu.Presentes cheios de tédio.Você esquecida no sofá.O relógio que não anda.Bebe água, e é aguardente.Pega um salgadinho.É de frango.Você enjoa.E o peru continua na mesa, com as pernas pro ar, mais desesperado que você, tão estático que não lhe ocorre correr e procurar um amor de natal.



Penso que o peru é a maior vítima do natal.Dizem que ele também escreveu uma cartinha ao bom velhinho.Papai Noel leu de olhos fechados.Adeus, peru!Enfim, a ceia.Todo mundo come.O prejuízo aumenta.E a noite acabada.


Quem dera os momentos de confraternizações não fossem tão fraternos assim.Seria bem mais interessante um natal para lavar a roupa suja.Levaríamos uma língua ferina, cheia de acusações, mais rápida que as personagens do faroeste.Vestiríamos coletes à prova de bala.Montaríamos trincheiras. Descarregaríamos a raiva.Cobraríamos o parente trambiqueiro.Falaríamos mal da religião do tio chato.Mandaríamos a tia intrusa cuidar da própria vida.E quanto ao primo com complexo de Narciso?Engula as histórias falsas, o carro que não tem, o trabalho que não conseguiu, junto ao ego que não pára de crescer.



Essas são as coisas que só fazem sentido no natal, porque, como disse, é uma época de paz interna e reconstrução dos laços familiares.E não há melhor maneira de recomeçar do que destruir tudo, não?


Então, uma semana passa voando, e chegamos ao dia 31 de dezembro.O ponto principal da história.Foi atribuído, ao réveillon, a idéia de renovação.Mentira!É só um feriado que justifica a ressaca alheia.Falam até que é um momento de retomada.Só se for a retomada da garrafa de Johnnie Walker deixada pela metade no natal, a cervejada não feita naquele happy hour, ou a insana vontade de encher a cara.Como não bebo, nada tinha a retomar.Na véspera do ano novo, resolvi que a minha comemoração seria na casa de uma amiga.A noite começou bem.Peguei o ônibus errado.Primeiro, ele quis olhar as paisagens de Fortaleza, e rodou tanto que me deixou tonta.Depois, parou em uma avenida praticamente deserta.E, por fim, percebi que não sabia como chegar à casa dela.Resultado: o réveillon é a retomada da raiva; o aviso prévio de que você vai se estressar muito em 2011.


Com a minha sorte, e se fosse supersticiosa, pularia quatorze ondas.Sim, quatorze completas ondas.No meu caso, sete ondas não resolvem.Preciso assegurar-me de que a sorte não errará de endereço.Mas como sou agraciada pela justiça divina, capaz de afogar-me na terceira onda.Nada de praia para mim.


Após horas de ônibus, minutos sem fim de caminhada, encontro com o condomínio errado e o começo do manquejo, deparei-me com o prédio certo.Aleluias tocaram?Não.Nessa hora, ouvi a música sertaneja vindo da rua.Os sinos não dobraram por mim.Lástima!


Esperei mais uma hora e a minha amiga chegou, depois de um dia de completa exploração no seu trabalho semi-escravo.Porém, faltava o principal de uma comemoração: comida.Ninguém vive sem comida.Ninguém suporta a ausência de algo tão prazeroso.Quando uma festa não presta, você se apega à comida.Você ri da comida.Abraça-a.Quase adota como membro da família.E eis que foi a nossa vez de colocar os talentos culinários em prática.O problema é nossa completa nulidade de talentos na cozinha.Nenhuma sabia cozinhar.Resultado: criação de uma receita secreta, mais tão secreta que nem nós sabíamos o segredo.Prato da noite: arroz papa regado a molho shoyo; macarrão sem gosto entupido de ketchup; ovos deformados e, parcialmente, sem sal.E como não podia faltar, água bem geladinha, já que suco de limão não é o meu forte.Ficou muito bom.Pasmem! E era, exatamente, meia-noite.Fogos explodindo.Comida estranha.E filme na tv: a órfã.


Além das receitas com sabor de loucura, o ano novo traz aquela carga dramática.As pessoas percebem que seus casamentos continuam uma droga.Nenhuma sexóloga daria jeito.As contas não se pagam sozinhas.O trabalho ainda é uma chatice.Seus pais continuarão criticando-lhe.O Papa não morreu.Você está como a Grécia: em crise financeira.E se for solteira(o), o amor sacaneará você novamente.Fora a inspiração da amizade no réveillon; pessoas que nem lhe conhecem vêm abraçar e fazer votos de paz, alegria e felicidade.



O ano entra.A praia suja.Papai Noel adota a ressaca.As famílias voltam à guerra.O mundo continua girando.Você segue envelhecendo.O amor vai rindo.Os amigos somem.As obrigações multiplicam-se.




E o que fazer?

Peça para a felicidade, finalmente, descer da árvore.


(Mari N.)
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A posse da Dilma


















No sábado, dia 1 de Janeiro, iniciou-se um novo governo.Lula deixava a presidência e a faixa era passada à Dilma Rousseff.Com um discurso acalorado, entrava , na história do Brasil, como a primeira presidenta.


“A partir deste momento, sou a presidenta de todos os brasileiros, sob a égide dos valores republicanos”
“Venho para abrir portas para que muitas outras mulheres também possam, no futuro, ser presidentas; e para que - no dia de hoje - todas as mulheres brasileiras sintam o orgulho e a alegria de ser mulher”.
“Não vou descansar enquanto houver brasileiros sem alimentos na mesa, enquanto houver famílias no desalento das ruas, enquanto houver crianças
pobres abandonadas à própria sorte. O congraçamento das famílias se dá no alimento, na paz e na alegria. É este o sonho que vou perseguir!”


Quem me conhece sabe que não sou simpatizante do PT.Bom, as duas donas do blog não são.Mas falarei, apenas, por mim.Fui, um dia, simpatizante.Acho que o PT sofreu uma descaracterização tremenda.Um partido, antes de esquerda, que visava ao trabalhador, possuía uma ideologia forte, acabou por dar uma assistência maior aos banqueiros.E as políticas, em prol das minorias, foram, de novo, varridas para baixo do tapete.Embora não seja admiradora do PT, não consigo conceber a idéia do PSDB no poder.Imaginar outro neoliberal hipócrita me dá vertigem.Quem não lembra da Vale do Rio Doce?Mais uma onda de privatizações arrasaria minha crença na política nacional.





Convenhamos que Serra seria a pior escolha para a presidência.A educação, que já não é das melhores, iria ralo abaixo.Nunca vi tucano investir no ensino público.São partidários ferrenhos do Estado mínimo e das privatizações.Só não privatizam a si porque não daria lucro.


Vale ressaltar que a eleição de 2010 foi a mais baixa no quesito ética.Casamento gay e aborto viraram moeda de troca.Os segmentos evangélicos aproveitaram-se da situação, interferindo, novamente, nas políticas públicas.Tanto Dilma quanto Serra promoveram a manutenção de um sistema de privilégios, onde os grupos, historicamente oprimidos, voltaram ao seu papel comum: a vassalagem.E o Estado laico foi parar em algum lugar de Pasárgada.

Em longo prazo, como conseqüência desse jogo sujo em busca de poder, temos as reações homofóbicas, machistas, xenofóbicas, que vagaram Brasil a fora.Os ataques na Avenida Paulista e as mensagens de incitação ao ódio nas redes socias.


Uma mulher, no poder, é uma conquista para a causa Feminista.As mulheres só ocupam 9% dos cargos parlamentares.

Não digo que toda mulher que ocupa um cargo de poder vai desenvolver políticas em benefício de outras.
Mas no caso da Dilma, ela representava o marco da emancipação da mulher e do seguimento de um governo voltado para as camadas subjugadas.
Teoricamente, um governo que assistia as pessoas mais pobres, não é?


Embora sejamos donas de 51, 7% do eleitorado, só em 2010, uma mulher foi eleita, mesmo sob fortes críticas pelo simples fato de ser mulher.Sua competência era medida pelo gênero.



Uma presidenta demonstra maior projeção feminina na política e em outros âmbitos da sociedade.Por isso, eleger uma mulher figura o processo de conquista de direitos. Mas apesar de eu ser feminista, não me sinto representada por ela.


Não votei na Dilma.Não votaria se as eleições fossem hoje.Não concordo com os planos de governo.Não gostei de como a política foi tratada durante as eleições de 2010.Acho que, muitas vezes, há uma omissão por parte dos presidentes.Depositei minha crença no Lula, em 2002.Não vingou.


Porém, não posso fechar os olhos para a transformação política, social e econômica que o Brasil sofreu.Maior projeção externa; milhões de pessoas saíram da linha da pobreza; investimentos na educação pública, com a construção de 214 escolas técnicas e 16 universidades federais; introdução de 15, 5 bilhões no FNDE(Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação).




Entretanto, não acho que houve transparência.Acho que existiu um comum acordo entre governo e banqueiros.Lembram da Reforma da Previdência, em 2003?Lula começou cuspindo na cara do trabalhador.E para quê?Para pagar as dívidas públicas com os banqueiros. Eles lucraram 236 bilhões no governo Lula.


Não acho que houve uma tentativa profunda de desconstrução das mazelas já arraigadas.Vi métodos paliativos nas políticas públicas.Não gostei dos escândalos que marcaram a sua administração.Não gostei do apóio ao José Sarney, mesmo ante um cenário de puro despotismo e nepotismo.


O Brasil tinha condições de promover transformações profundas, voltadas, realmente, para as camadas pobres.E diante dessa omissão, que custa a vida de muitos, desacreditei do PT.Sabemos como os jogos políticos se constroem.Os financiamentos das campanhas já demonstram a entrega ao empresariado.E quem paga?O trabalhador e a trabalhadora que não têm a quem recorrer.


Meus motivos para não vibrar com outro governo do PT?



1)Na casa civil, tem-se Antônio Palocci.Sim, aquele que foi cassado por corrupção.O mesmo responsável, em 2003, pelos reajustes fiscais e altos juros.Vibremos!



2)Corte nos gastos públicos para 2011.Guido Mantega anunciou que o corte será de cerca de 20 bilhões.E isso é apenas o começo.Manutenção dos serviços públicos parece que não é prioridade.E o aumento salarial ridículo, de apenas 30 reais.O que isso significa?Infelizmente, isso significa que, novamente, os trabalhadores(as) irão sofrer.



3)A crise.A Globalização mandou avisar que, economicamente, nosso país é regido, em grande parte, pela dinâmica das multinacionais.O que acontece é que tanto os EUA quanto a Europa estão passando por agravamentos da crise econômica, com altos índices de desemprego, rombos nos fundos públicos por causa dos estímulos fiscais e cortes nos gastos públicos.O governo brasileiro estima que, em 2011, haverá um rombo de 50 bilhões de dólares por causa do mercado externo.


4)Corte de 3 bilhões no PAC.



5)Política voltada totalmente para os banqueiros e, parcialmente, para o trabalhador.(Esse parcial é só para manter a boca das pessoas repleta de pães enquanto elas são obrigadas a assistir às novelas da Globo, o circo)




Esses motivos são suficientes.Devido à manutenção da política econômica, o trabalhador(a) vai suportar todo tipo de opressão.As camadas mais pobres é que vão sofrer quando a saúde, a previdência social e a educação sofrerem interferências.O desemprego vai ser um fantasma soprando ao ouvido dos menos favorecidos.E os banqueiros?Vão se aproveitar das verbas públicas, como sempre fazem.





Fico feliz que, finalmente, uma mulher esteja no poder.Mas não fico feliz por essa mulher ser a Dilma, uma representante do PT, partido que deixou de lado sua ideologia.Precisamos de mais mulheres na política.Precisamos ter opções.Esses 9% dos cargos parlamentares, quando somos mais da metade do eleitorado, é a marca do quanto o Brasil é um país machista.

Ouvi todo tipo de comentário maldoso sobre uma mulher não conseguir orquestrar um país.Vi, na imprensa parcial, leia-se Veja, Globo e Folha de São Paulo, o intento da manobra baixa, tentando demonizar uma candidata pelo único e exclusivo motivo de ser mulher.

Assisti aos ataques de um candidato desesperado, conservador e hipócrita, que gostava de aplicar, à Dilma, o que as mulheres, na sociedade, comumente sofrem: as prendas da boa mulher, as qualidade virtuosas de mulher digna.Aquelas mesmas qualidades que nos são imputadas antes de sairmos do ventre materno.Esse mecanismo de controle para que haja um domínio sobre o papel da mulher, para que ela faça a manutenção do patriarcado e seja desmoralizada, oprimida, quando foge do padrão.


Simone de Beauvoir deixou claro, em seu livro, “O segundo sexo: fatos e mitos”, a condição do eterno feminino.Trabalhou a cristalização das convenções na idéia das virtudes da boa mulher, de modo a condicioná-la a um paradigma comportamental do feminino, onde ela não é enxergada como um ser autônomo, logo, não vista como essencial.

A caracterização da mulher como algo inútil, de perspectiva fútil, maternal e resignada, gera segregação social, subjugando mulheres e inferiorizando-as. Então, em um país machista, com valores pautados na família(patriarcal), pátria(machista/homofóbica/racista) e moral(crivada pela conduta cristã proposta por igrejas), uma mulher, na presidência, é um momento histórico, uma conquista sem precedentes e um chute no ego de macho alfa de alguns por aí.


Como havia dito, não me empolgo com o fato de ser um novo governo do PT.Reconheço a conquista para as mulheres.Reconheço a validação de alguns ideais Feministas.Porém, não me sinto bem ao perceber que, mais uma vez, os pobres irão pagar para que os banqueiros tenham seus lucros assegurados.





Espero, um dia, eleger, sim, outra mulher, mas por quem eu tenha empatia.De toda forma, o ano novo foi marcado pela posse da Dilma.E, agora, teremos mais 4 anos de governo.Desejo que a haja mais conquistas que infortúnios.


Boa sorte a nós, mulheres!Boa sorte a nós, trabalhadores e trabalhadoras!Boa sorte ao povo brasileiro!





Acho que precisaremos muito disso.



(Mari N.)
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