Brasil Colonial I

sábado, 27 de novembro de 2010







1)Famílias e Vida Doméstica na Colônia.

A cultura da convivência entre familiares e amigos na Colônia, assim como em qualquer época ou localidade, é influenciada pelas condições econômicas, políticas e sociais vivenciadas.

Portanto, os elementos que marcaram profundamente a formação da sociedade brasileira e moldaram as práticas e os costumes solidamente constituídos no Reino eram: a distância da Metrópole que, por muitas vezes, separava membros de uma família e dificultava a transação de produtos da Europa para a América; a escravidão negra e indígena, a constante expansão do território; a precariedade de recursos.

Além do caráter estratificado da sociedade vigente, o qual implicava numa falta de padrões familiares semelhantes de vida e organização mesmo ao observar o cotidiano de uma mesma camada social.

Deve-se, então, buscar e recuperar os espaços de intimidade (em geral, os domicílios), analisando as atividades desenvolvidas em seu interior, a divisão de tais atividades entre os membros da família, objetivando o inteiramento mais real possível das formas de convívio e sociabilidade doméstica na Colônia.

2)A Família e o Domicílio

Estudar, pois, a vida doméstica compromete, por conseqüência, o estudo também do domicílio pelo fato de ser esse o espaço de convivência da intimidade, pois é exatamente no domicílio que observaremos as formas de interação com o meio natural, inovando nas formas de subsistência e conhecendo os laços afetivos dos colonos.

O casamento sacramentado possuiu um caráter peculiar no Brasil como projeto colonizador e representou uma correlação entre Igreja e Estado, atingindo primordialmente, porém, as elites ao conferir status social. Nas classes menos abastadas normalmente observava-se uniões consensuais.


No entanto, antes do século XVIII havia uma dificuldade de distinção entre o público e o privado devido a algumas características tais como exemplos: um território pouquíssimo povoado e as grandes distâncias entre uma morada e outra. Com a efetiva povoação, não só houve uma transformação na vida colonial, como também ocorreu uma sofisticação em certos lugares a exemplo dos costumes trazidos pelos emigrados e pelas travessias mais freqüentes.


3)A Morada Colonial e os Espaços de Intimidade

A arquitetura das moradas, ao menos nos primeiros três séculos de colonização, apresentava-se bastante rústica devido à falta de recursos dos habitantes, assim como o caráter passageiro das estadias dos proprietários de sítios e fazendas. Desse modo, nota-se uma regularidade nas construções urbanas como sendo casas pequenas com o predomínio do barro e da madeira ou pedras. Havia uma forte influência indígena na adaptação dos colonos quanto à forma de morar. Em contraposição das edificações urbanas, a falta de uniformidade já foi característica das propriedades rurais.

Os anexos às casas coloniais como jardins, pomares e hortas, normalmente eram circundados por muros baixos, delimitando o espaço domiciliar. Existia ainda a casa da farinha, o monjolo ou moenda. Tais áreas representavam as dependências voltadas para a produção de alimentos básicos para subsistência onde se passava a maior parte do tempo, principalmente as mulheres da casa.


Devido ao clima quente e as poucas portas e janelas presentes, as famílias procuravam as partes mais externas das casas, seja nos momentos de lazer seja nos de trabalho. Nas moradias mais amplas e abastadas, estas áreas também serviam de espaço para as refeições. Conclui-se, assim, que a vida doméstica era mais voltada para o exterior das edificações onde se vivia mais intensamente.




4)Os Interiores da Casa: Em Busca de uma Intimidade.

A diferença básica entre as construções dos homens mais pobres e livres e as edificações dos que dispunham de algumas posses se concentrava no caráter da privacidade. Enquanto nas primeiras havia um reduzido número de cômodos, o que não deixa dúvidas a respeito da superposição de funções e atividades desses, observa-se, desse modo, uma falta de privacidade. Já nas últimas, a presença de mais cômodos, normalmente postos em uma fileira (padrão geral para quase todo o país), permite uma maior privacidade.


Entretanto, esta intimidade das casas mais abastadas possuía um limite, apesar dos espaços bem definidos para mulheres, hóspedes e escravos, além de salas e aposentos destinados à atividades específicas, pois era comum entre os quartos haver uma comunicação.
Somente em meados do século XVIII, devido uma maior mobilidade social que as bandeiras e entradas propiciavam e o crescimento das cidades, é que os colonos se preocuparão melhor com a questão da intimidade.


Embora existissem muitas diferenças das formas de moradia entre as regiões do Brasil colonial (São Paulo, por exemplo, era bastante precária em relação ao Nordeste açucareiro), no que tange à questão do mobiliário das casas, segundo as fontes de depoimentos colhidos, predominava uma forte modéstia, característica que persistiu por séculos. Havia poucas cadeiras, uma ou duas mesas com seus bancos e algumas caixas e baús. Com a constância da superposição das funções nos cômodos, também existiam raras camas de dormir, entretanto constam-se redes de dormir pelas suas praticidades. O suprimento mobiliário, ao menos para as casas mais abastadas, só começou a aparecer no início do século XIX nos portos de Recife, Bahia e Rio de Janeiro.

Existia uma comunicação direta entre as residências por onde se faziam visitas sem cerimônia, uma prática corriqueira, não delimitando, desse modo, os limites de intimidades entre as famílias. Mudanças em prol de uma ordenação da disposição espacial dentro e fora das casas só serão possíveis com a formulação de novas regras de conduta e de pudor.

Tenta-se explicar o primitivismo da maioria dos lares coloniais atribuindo tal característica ao trabalho árduo pelo qual passavam os colonos, o que não deixava muito tempo livre para se pensar em mordomias da moradia.



5)Formas de Sociabilidade no Ambiente Doméstico.


Como já foi dito, os espaços exteriores às casas eram os locais onde se tinha uma maior intensidade, isto é, eram os principais locais de sociabilidade da vida doméstica. A interação social era intensificada pelas festas religiosas e as festas em homenagem à família real e às autoridades civis e eclesiásticas, sendo estas últimas em menor número. Nelas participavam não somente os moradores do núcleo urbano, mas também aqueles interioranos dos sítios e fazendas dos arredores ou, até mesmo, de lugares mais distantes.




Juntando a isso, ainda existia a característica marcante dos brasileiros: a questão da hospitalidade. Tinha-se o costume de hospedar viajantes e forasteiros, às vezes o único contato com o mundo exterior que os colonos das áreas mais afastadas desfrutavam.
Jogos como baralhos e tabuleiros de xadrez e gamão também são vistos como formas de sociabilidade entre familiares e amigos. A inquisição, inclusive agiu sobre vários indivíduos acusados de blasfemarem enquanto jogavam.



Apesar de não ser um hábito tão difundido devido a maior parte de a população ser iletrada até o início do século XIX, a leitura em voz alta ou silenciosa também era uma forma de compartilhar a intimidade e o convívio familiar.

Na Colônia se valorizava bastante as visitas, muitas vezes tornando-as, entre os membros das camadas mais altas, alegres reuniões nas quais se dançava, jogava, conversava com muita animação em meio a uma fartura de comes e bebes.

6)Costumes domésticos.

Os costumes domésticos nos primeiros séculos de colonização foram influenciados principalmente pelo fato da distância da Metrópole o que dificultava as embarcações, atrasando as frotas. Com isso, então, para conseguir sobreviver sem vinho, trigo ou sal durante meses, os colonos tiveram, em primeira instância, a aprender com os próprios gentios da terra a se protegerem do clima e dos animais, a preparar os alimentos disponíveis, a fabricar utensílios e a explorar as matas. As índias assumiram o lugar das mulheres brancas, pela falta dessas, ensinando a socar o milho, a preparar a mandioca, a trançar as fibras, a fazer redes e a moldar o barro.

A importância do trabalho feminino era enfatizado pela esfera doméstica, mas não ficou restrito à esfera doméstica, pois até nas bandeiras ela compartilhavam com os homens inúmeras aventuras e o trabalho do dia-a-dia. Elas preveniam o ataque de insetos preparando mosquiteiros e defumando a casa ao anoitecer, comandavam as escravas e os índios domésticos além de grande parte da indústria caseira. Através do trabalho manual também se fabricavam utensílios domésticos como almofadas e travesseiros recheados de penas, lã ou lanugem etc. Também era trabalho feminino.
Não havia o costume de se usar talheres nas refeições. O comum era comer com as mãos em qualquer classe social, mesmo que os convidados fossem finos. O requinte de bandejas de prata era raro! O que se tinha, normalmente, eram louças de barro. Servia-se as refeições ao redor de uma mesa baixa ou muito freqüentemente de uma esteira estendida no chão, sem o conforto de cadeiras.

Os alimentos principais da dieta dos colonos durante séculos foram: a farinha de mandioca, carne-seca, rapadura, arroz, feijão e milho.





7)Trabalho e Atividades no Interior do Domicílio.

A escravidão e a falta de produtos estimularam a produção doméstica e marcaram profundamente as atividades dos colonos no interior dos domicílios e sua rotina cotidiana. Havia, assim, uma tendência à auto-suficiência tanto nos sítios como nas grandes propriedades. A produção em pequenas quantidades, porém para consumo interno da propriedade, era efetuada a partir de técnicas mais primitivas e trabalhosas.

A fiação e a tecelagem, por exemplo, produziam um pano grosseiro tanto para o vestuário dos escravos como roupas caseiras do dia-a-dia. Também se fabricava as redes de uso bastante comum. Entretanto, a tecelagem representava um trabalho fatigante, vagaroso e pouco valorizado, inclusive na Metrópole. Com o avançar dos tempos, alguns produtos já podiam ser adquiridos, porém outros ainda necessitavam ser produzidos em casa.

A falta de moedas impulsionou uma economia de trocas nos primeiros tempos na qual porcos e galinhas, algodão e farinha eram bastante valorizados e usados como dinheiro.
Aqui entra mais uma vez o papel dos índios na adaptação dos colonos cujas técnicas para se fazer cerâmicas e cestarias foram apreendidos pelos gentios. Ainda destinados ao consumo doméstico e ao asseio da casa, fabricava-se sabão com cinzas de vegetais queimados.

Na vida doméstica na Colônia, trabalho e lazer confundiam-se no dia-a-dia dos colonos, a exemplo dos senhores, que, enquanto administravam seus negócios e cuidavam do funcionamento da casa, dedicavam-se a outras atividades, algumas delas manuais.


(Bia G. e Mari N.)- Baseado na obra "História da Vida Privada no Brasil", de Fernando Novais.

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