Antropologia

terça-feira, 11 de janeiro de 2011




Somente no final do século XVIII, iniciou-se a construção de um pensamento científico que tem o ser humano como objeto de estudo.Porém, sua legitimação só veio na segunda metade do século XIX.O objeto empírico adotado foi as sociedades “primitivas”.O ser humano deixou de ser o fomentador do conhecimento, das elaborações teóricas, e passou a ser o objeto passível de análises.
Não existe uma definição estrutural para a Antropologia.É uma área abrangente, que traz valores diversificados.De uma forma direta, pode-se dizer que Antropologia é o estudo do ser humano como ser biológico, cultural e social.Vale salientar que existem outros fatores além desses.Insere-se, também, nessa definição, o estudo comparado, que é baseado nas diferenças culturais.É, sobretudo, uma ciência que investiga as origens, o desenvolvimento, as semelhanças, as diferenças, as evoluções,as involuções, das sociedades humanas.


O antropólogo





Geralmente, o antropólogo tem, como papel fundamental, a investigação das diversas formas de desenvolvimento comportamental humano, com o objetivo de descrever, integralmente, os fenômenos sócio-culturais.Eles procuram perceber a realidade humana através da análise dos mecanismos de relacionamento e as formas de organização social.



Estudo do homem(é, eu me incomodo com o machismo linguístico.Fica parecendo que só homens são seres humanos.Inclua mulher aqui também, afinal, não somos andróides):

*Estudo do homem por inteiro:

- Antropologia Biológica: estuda as transformações das características biológicas ligadas ao ser humano ao longo do tempo e em um determinado espaço.
-Antropologia Pré-Histórica: estuda o ser humano através dos vestígios materiais.O objetivo principal é a reconstrução da produção cultural, social e artística das sociedades já desaparecidas.
-Antropologia Lingüística: estuda como o homem interpreta o seu saber, o seu universo, o seu meio social.Com base nisso, pode-se externar os valores que definem aquela sociedade.
-Antropologia Psicológica: compreensão da totalidade do ser humano através dos comportamentos conscientes e inconscientes.Trabalha com o processo de funcionamento da mente.
-Antropologia Social( focada nas instituições) e Cultural(manifestações comportamentais coletivas) - (Etnologia) : refere-se a tudo que constitui a sociedade, desde a produção econômica até a produção artística.Articulação desses aspectos dentro da sociedade.



Análises


O trabalho de campo antropológico tomando como base as idéias de Malinowski



Com o objetivo de organizar algumas regras metodológicas para uma pesquisa de campo antropológica que se diferenciasse do trabalho de autores antigos, ou seja, que esta pesquisa constituísse objetivos genuinamente científicos, Malinowski propõe que o etnólogo precisa conhecer os valores e critérios da etnografia moderna. É característica da etnografia o dever do pesquisador de percorrer a imensa distância entre o material bruto coletado na vida em campo através de suas próprias observações e a apresentação final dos resultados da pesquisa.

Entre os métodos sugeridos para a coleta do material etnográfico seria a questão da apresentação da pesquisa científica de maneira clara e absolutamente honesta. Assim sendo, o etnólogo deve ter o compromisso como profissional do ramo do conhecimento humano (compromisso este também com os seus leitores) de mostrar resultados baseados em verdades coletadas em campo e que revelem algo a respeito de experiências concretas, levando-o às suas conclusões.
O trabalho etnográfico final, portanto, não pode ser “inventada” nem conter mentiras ou noções distorcidas da realidade.

A partir da descrição abordada, concluo que esta questão foi importantíssima para a construção da metodologia antropológica do trabalho em campo na medida em que procurou uma nova alternativa de pesquisa moderna em detrimento das formas de abordagem da vida nativa dos autores antigos. Desse modo, Malinowski ajudou a danificar aquela noção ultrapassada do agente etnológico colocar-se como preconceituoso, de opiniões já sedimentadas, menosprezando o que o autor chama de tesouro científico: basicamente as peculiaridades mentais e culturais dos nativos.

Outra questão evidenciada no método de Malinowski seria a de que o pesquisador necessita asseverar boas condições de trabalho as quais, para o autor, seria resumidamente viver entre os nativos (observação participante).Para tanto, o etnólogo precisa seguir algumas condições: ele deve se afastar das influências de outros brancos e se desprender ao máximo de sua própria cultura ocidentalizada. Entretanto, isso só é possível acampando dentro das respectivas aldeias, mantendo apenas uma base a qual serve de refúgio branco nos momentos depressivos ou de doença e ainda em casos de exaustão da vida nativa.

De acordo com este conceito de boas condições de trabalho, a vida ativa na aldeia provoca um relacionamento natural com os habitantes da comunidade. Constituindo esta naturalidade na convivência, o antropólogo pode então conhecer e familiarizar-se com os costumes e crenças de modo muito melhor do que quando se relaciona esporadicamente com os nativos.

Ao demonstrar interesse pessoal por acontecimentos importantes na vida tribal, como uma festa ou fato peculiar, o etnógrafo consegue desvendar as regras e regularidades dos costumes nativos e, desse modo, pode produzir um esboço claro e minucioso da estrutura nativa.

Concluindo sob meu ponto de vista, este segundo método de investigação antropológica tem a sua relevância no que tange a forma de como o pesquisador busca o seu material etnográfico dentro das próprias aldeias e este fato se sobressai perante o método dos antigos, com uma importância especial, pois o etnógrafo tem a oportunidade de sentir as instituições presentes na aldeia e, assim, produzir um trabalho melhor elaborado.

Uma terceira abordagem a ser feita na metodologia de Malinowski seria a de conhecer o que o autor chama de os imponderáveis da vida real. Ele dá uma devida magnitude no tocante do levantamento exaustivo de dados bem detalhados e, a partir disto, dispor os resultados obtidos na forma de um quadro sinótico, apresentando o esboço da sociedade observada e utilizando como instrumento de estudos (método de documentação estatística por evidência concreta).

Contudo, tal levantamento de dados ainda não consegue perceber ou imaginar de fato a realidade da vida nativa, pois até mesmo os relatos de informantes podem não condizerem com a realidade propriamente dita. Na solução desse problema, o pesquisador através da observação pertinente dos costumes, cerimônias, transações, crenças etc., tal quais os nativos realmente vivem. Assim, o etnógrafo tem acesso aos fenômenos mais essenciais do íntimo da realidade nativa.

Diante dessa caracterização, posso compreender que os imponderáveis da vida real são complementos indispensáveis no trabalho de campo na medida em que somente o auxílio de questionários ou documentos estatísticos não consegue chegar de fato à plena realidade.




Analise do trabalho antropológico em Roberto Cardoso de Oliveira.



Na composição de sua metodologia no trabalho de campo antropológico, Roberto Cardoso de Oliveira prioriza três aspectos fundamentais para o pesquisador, abrangendo o caráter construtivo da percepção dos atos cognitivos, ou seja, dos atos que envolvem os sentidos do olhar, do ouvir e do escrever. Estes sentidos são tidos como etapas para a apreensão dos fenômenos sociais, tomando-as com o objetivo de questioná-las. Sendo assim, o etnógrafo exerce uma função de reflexão no exercício da pesquisa e da produção de conhecimentos. O autor mostra que tais etapas, embora pareçam triviais, a ponto de serem até banalizados e esquecidos no trabalho em campo, assumem um sentido particular, pois é com eles que se constrói o saber.

A primeira etapa, ou primeira experiência do etnólogo tem como característica a domesticação teórica de seu olhar. Tal domesticação ocorre a partir de um direcionamento do olhar em certo objeto e, desse modo, altera-o pelo próprio esquema conceitual da nossa forma de visualizar a realidade disciplinada academicamente, através de sua “bagagem” teórica.

O embasamento teórico que o pesquisador carrega entra nesse processo, pois sensibiliza o seu olhar e, assim, uma realidade ou característica cultural nativa não é mais vista com ingenuidade ou como uma mera curiosidade perante o exótico. Portanto, o olhar devidamente treinado tem a função de observar as características culturais essenciais à vida nativa. Também consegue enxergar processos de mudança cultural ou de aculturação.

Fundamentando-me nos aspectos apresentados pelo autor para descrever esta primeira percepção da comunidade, posso argumentar a respeito da magnitude do olhar inerente ao trabalho do antropólogo, porém deve-se agregá-lo às demais fontes de sentidos propostas (ele não pode ter independência). Justificando isto, o uso apenas do olhar ainda não é suficiente para dá significado completo das relações sociais, as estruturas mais importantes das sociedades ágrafas: as teorias de parentesco.

Diante da problemática, Roberto Cardoso de Oliveira sugere que o etnógrafo deve se valer ainda do ouvir. Para ele, o olhar e o ouvir estão intimamente ligados, indissociáveis e até compara essas duas “faculdades” como sendo duas muletas para o antropólogo. Porém, a singularidade do ouvir reside na sua serventia de eliminar os sons insignificantes ou desprezíveis para o corpus teórico da disciplina.

O autor aborda, então, a pertinência de uma entrevista concedida pelo etnólogo aos nativos por meio da qual o pesquisador obtém informações que somente a observação não alcança. Isso tem embasamento na medida em que ao se observar, por exemplo, um ritual, ainda parece inútil sem o entendimento das idéias que a sustentam. É necessária a retenção de explicações fornecidas pelos próprios habitantes da comunidade, ou seja, a descrição através do “modelo nativo”.A entrevista deve conter o confronto entre os dois mundos no contexto entre entrevistador e entrevistado, ou seja, entre o europeu e o americano.

Contudo, esta relação de confronto envolve condições bastante delicadas. Tal relação, traduzida como não dialógica, é criticada ainda por Roberto Cardoso de Oliveira. A caracterização de falso diálogo funciona quando se empobrece o ato cognitivo, pois, no ato da entrevista, força respostas pontuais através da autoridade imposta de quem faz as perguntas. A solução para esta problemática é a alternância entre informante e “interlocutor”, promovendo um encontro etnográfico na medida em que os horizontes semânticos dos dois mundos se encontram com a condição de que o pesquisador tenha a sensibilidade/habilidade de ouvir o nativo e por ele ser igualmente ouvido, colocando os dois num mesmo patamar etnológico.

A partir dos relatos do autor sobre o ouvir, posso falar que este realmente deve se colocar como inerente ao primeiro sentido: o olhar no ato de perceber e entender as relações reais da sociedade estudada, porém tomando os devidos cuidados para o trabalho não tornar-se intimista, o que prejudicaria a pesquisa.

Já o escrever é apontado como configuração final do produto do trabalho de campo. Porém, o olhar e o ouvir constituem a realidade focalizada na pesquisa empírica e o escrever está associado com o ato de pensar. Citando Clifford Geertz com seu livro Trabalhos e vidas: o antropólogo como autor, Roberto Cardoso de Oliveira avalia duas etapas da investigação empírica: o “estando lá”, ou seja, a vivência do estar em campo nativo e o “estando aqui” que corresponde aos trabalhos do pesquisador estando em ambiente urbano, dentro de seu gabinete, longe das aldeias. Resumindo, o olhar e o ouvir fariam parte de uma primeira etapa e o escrever seria a segunda.

É através do escrever que realizamos as interpretações baseadas no nosso próprio bom-senso e por conceitos básicos da disciplina. Contudo, no contexto do being here, essas interpretações sofrem uma nova “refração” no âmbito do lembrar do antropólogo.
A definição de “representação do trabalho de campo em textos” caracteriza a singularidade do texto etnográfico ao se buscar uma articulação entre o trabalho de campo e a construção do texto.

Os artigos e as teses acadêmicas, em relação à monografia, devem ser escritos intermediários. Nas monografias modernas priorizam-se temas centrais através da qual toda a cultura passa a ser descrita, analisada e interpretada. Enquanto nas clássicas, existe uma divisão das peculiaridades da sociedade analisada como em capítulos de uma narrativa.

Existe ainda um terceiro tipo de monografia: as pós-modernas. Estas demonstram desprezo à necessidade de controle dos dados etnográficos o que provoca em um detrimento do próprio paradigma hermenêutico.
É evidente que num trabalho etnográfico há uma pluralidade de vozes. Vozes estas articuladas entre o pesquisador e os habitantes nativos (antropologia polifônica). É responsabilidade do antropólogo distinguir claramente tais vozes sem impor um caráter autoritário e intimista.

Para concluir, coloco a importância do ato de escrever como sendo a textualização dos dados provenientes da observação em campo, procurando soluções normalmente ainda não imaginadas antes de tal ato.






Paralelo entre as reflexões de Roberto Cardoso de Oliveira e Kleber Saraiva em relação à pesquisa de campo antropológica.




Kleber Saraiva, ao escrever, faz reflexões a respeito de sua metodologia e a compara com os escritos de Roberto C. de Oliveira. Desse modo, ele faz citações deste último, abordando as principais regras, de acordo com a concepção de Oliveira, ou seja, o uso dos instrumentos sensoriais da visão e da audição no momento da observação participante e que constituem o primeiro momento do trabalho do antropólogo.

A domesticação destes sentidos também entra no contexto da observação participante a partir da importância da teoria social já existente sobre os acontecimentos a serem analisados. Essa carga teórica a qual deve ser acompanhada pelo etnólogo deve ser anterior ao primeiro passo deste em seu trabalho em campo.
Saraiva faz alusão a todos estes fenômenos e os considera inteiramente pertinentes para o trabalho do pesquisador no que tange os efeitos dos resultados decorrentes do olhar e do ouvir, aplicando melhores oportunidades para a consumição das situações sociais observadas pelo cientista.

Porém, por outro lado, o autor de Sobre os papéis do corpo na pesquisa de campo antropológica, como o próprio nome pode transmitir para uma auto-explicação, o fato do olhar e do ouvir, por si só, ainda não pode levar à completude do entendimento real dos acontecimentos sociais concebidos em campo. Para ele, esses únicos métodos, tidos como regras para Oliveira, podem gerar um quadro vicioso na medida em que são colocados como expressão absoluta, pois tende a insensibilizar a ação etnográfica, supervalorizando o que se conhece teoricamente e limitando o pesquisador ao uso restrito da visão e da audição.

Assim, esses dois sentidos apenas devem ser tomados como guias parciais do pesquisador. Não atendendo a esse procedimento, pode ocorrer um aprisionamento metodológico.

Na proposta de Kleber Saraiva, são dados dois exemplos por ele elaborados: um relacionado à sua experiência vivida em campo com os índios Jenipapo-Kanindé e outro relativo ao ensaio de Glória Diógenes.

Descrevendo a pesquisa com os índios, o autor infere em muitos processos de observação da comunidade, apenas a mecanização do olhar e do ouvir não era suficiente na sensibilização do entendimento dos habitantes da região. Observou a necessidade de relativização dos conceitos como “longo”, “curto”, “estreito” e “largo” e o uso de vários outros sentidos além da visão e da audição.

Glória Diógenes procurou trabalhar com a violência nas gangues e o estudo dos movimentos de hip hop da cidade de Fortaleza nos quais teve de reelaborar os conceitos metodológicos para chegar à apreensão da mentalidade de tais movimentos. Assim, ela observou que apenas pelo ouvir não era possível uma comunicação completa com os entrevistados, afinal eles possuíam uma forma de interação singular.

Concluindo, as ideias de Saraiva estão, resumidamente, atreladas ao uso dos sentidos humanos em sua multiplicidade e manifestações possíveis, permitindo que o cientista possa estar livre para perceber o que realmente é relevante na sua pesquisa e confiando na sua intuição. Nesse sentido, a crítica se encontra através do que Roberto Cardoso de Oliveira impõe com seus métodos estáticos dentro da Antropologia.




(Mari N.) e (Bia G.)

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