As práticas religiosas, definidas pela Igreja Católica, eram da oração pessoal e do culto público.Os ritos públicos tinham como função primordial o controle social e a manutenção da hierarquia da Igreja.Mas no Brasil, como os centros urbanos eram pouquíssimo e não possuíam tradição associativa , as celebrações eram abandonadas ou realizadas no interior das Igrejas, ou ficavam restrita às celebrações domésticas.
Eram fixadas três orações diárias: às seis da manhã(hora do ângelus), ao meio-dia(hora que o diabo está solto),às seis da tarde(hora de ave-marias).Em muitas casas urbanas, existia uma cruz pregada à porta da entrada; nas zonas rurais, elevava-se uma bandeira com um santo, que demonstrava a preferência familiar.Dentro da casa, ficava as imagens, quadros, amuletos, que davam a idéia de sacralização do ambiente.
O oratório funcionava como um relicário, onde eram conservadas as relíquias relacionadas ao divino.Nesse espaço também eram guardados talismãs aceitou ou tolerados pela Igreja.Os santos e os oratórios eram bentos e abençoados pelo vigário durante as visitas nas residências, porém, nem sempre a relação entre a imagem dos santos e os fiéis era dentro das normas permitidas pela ortodoxia católica.Também era comum a construção, nas propriedades rurais mais abastada, de pequenas capelas que possuíam um sacerdote residente ou a assistência de algum clérigo, que amparava religiosamente os senhores e seus escravos.Essas construções eram sinônimos de status e de obrigações religiosas.
2)Pieguismo Barroco
Os católicos da colônia acreditavam na máxima de que a fé sem obras de nada valia, elegendo a penitência como algo complementar à oração.As mortificações eram praticadas em âmbito público e privado, funcionando como um elemento necessário para a purificação das almas mais selvagens e frígidas.Tanto os religiosos quanto os leitos entregavam-se à autoflagelação.
Aceitavam os dogmas, a moral católica, a hierarquia eclesiástica, demonstrando uma fé inquestionável.
2.2)Católicos praticantes superficiais:
Cumpriam os rituais católicos e deveres religiosos por obrigação e não por convicção.
2.3)Católicos insatisfeitos:
Evitam os sacramentos, os rituais, por serem indiferentes à fé católica e praticar um rito heterodoxo.
2.4)Falsos católicos:
Por conveniência, diziam-se católicos, mas só para cumprir com as funções sociais e evitar a representação inquisitorial.Boa parte dos cristãos-novos, animistas, libertinos e ateus.Guardavam crenças heterodoxas ou sincréticas.
Gradativamente, foram se cristalizando diversos tipos de vivência com base na religião.Na doutrinação dos fiéis da colônia, fazia parte a crença em um Deus onipotente, juiz justo e comandante dos exércitos, que castigava aquele que pecadores e dissidentes de suas leis, rogando-lhes pragas, pestes, e infortúnios.A contrição funcionava para os fiéis uma mão única para alcançar a virtude.Existiam católicos que se dedicavam à vida religiosa por prazer, utilizando-se do ritual de autoflagelação física e espiritual.
3)Modelo de vivência católica
Os conventos e mosteiros femininos foram fundados tardiamente, e eram muito raros e dispersos.Muitas donzelas católicas fervorosas entregavam-se ao claustro domiciliar, elevando à consagração de corpo e alma ao Divino Esposo.Dedicar-se aos sacrifícios e mortificações tinha como fundamentação a perfeição mística.Os colonos demonstravam maior intimidade com a corte celeste do que com as autoridades constituídas.
4)Devoção aos santos
O sacrilégio com a imagem dos santos era atribuída aos judeus e cristãos novos, como, por exemplo, jogar o santo no urinol, ou pinicar a imagem com agulha.
5)Simpatias domésticas
A hierarquia católica se opunha rigorosamente as superstições, feitiçaria, crendices, considerando-as diabólicas.Era comum homens e mulheres recorrerem a feiticeiros em caso de doenças graves, que não haviam sido curadas pela Igreja e nem pelos remédios.Essas práticas foram condenadas com pena de excomunhão.Também eram excomungados aqueles que usassem objetos pertencentes aos ritos heterodoxos, como era o caso da pedra de ara, bolsas de mandingas e patuás.
Em Minas Gerais, por exemplo, era comum a prática do “calundu”: um rito caracterizado pelo estrondo dos atabaques e pandeiros.Tanto sacerdotes quanto fiéis mais afincados sentiam-se impotentes diante de tais rituais, mesmo enxergando-os como algo diabólico, passível de castigos rígidos.
6)Práticas particulares
Embora muitos desviantes da fé católica mostrassem sua ousadia, seja por parte dos protestantes, cristãos novos, judeus, ateus, feiticeiros, ainda assim, buscavam a ocultação das crenças e rituais, visando não despertar a repressão da justiça civil e inquisitorial.
Os adeptos dos rituais africanos instalavam-se em locais mais distantes da povoação, evitando a atenção pública, desta forma, evitando a repressão; outro motivo seria a aproximação com os deuses da África.
7)A confissão dos pecados
O confessionário tinha caráter privado e público.Deveria promover a privacidade entre sacerdote e fiel na hora da confissão, permitindo que só o clérigo pudesse ouvir a confissão.O caráter público era ser o de alcance ao olhar das pessoas, desta forma, intimidando o fiel a ceder às tentações.A confissão era indispensável à vida cristão.E a narrativa detalhada dos pecados era obrigatória.O padre era obrigado a citar os nomes dos confessados, sobrenomes, lugares onde viviam, a rua onde morava, a casa, o sítio ou fazenda.
A excomunhão era o preço que o fiel pagava por não cumprir esse dever.O sacerdote, após a confissão, deveria assumir uma figura paternal, humilde, de caridade, analisando o estado do fiel para dar-lhe a penitência correta.Muitos párocos desobedeciam às Constituições, promovendo a confissão em lugares públicos, dentro da sacristia, nos alpendres das casas, indecentemente vestidos.Outros sacerdotes impunham medo aos fiéis, visto que criticavam ferinamente seus fiéis, delatando seus pecados, condenando-os, xingando-os.Alguns padres exigiam presentes em troca da confissão, e determinavam castigos àqueles que não seguissem suas normas.
A maioria dos clérigos da época colonial tornava público aquilo que lhe fora confessado.O sigilo da confissão era quebrado.Nem todos os católicos da época eram possuidores de confiança nos párocos, o que acabava por levar-lhes a ocultar e mentir sobre seus verdadeiros atos.Existiam também aqueles que se confessavam mais por convicção ideológica.Gradativamente, muitos fiéis tornaram-se neuróticos, sempre em dúvida se haviam feito a confissão inteira ou se tinham ocultado algo.