Agostinho baseou seu raciocínio de mundo nos escritos de Platão, na cultura greco-romana, bem como nas escrituras judaico-cristãs, suas referências fundamentais. Dessa forma, apresentou conceitos sobre a vivência do homem calcada na vocação natural que este tem em consistir sua sobrevivência no meio terrestre se relacionando com seus semelhantes.
Para tanto, a política, segundo o santo, surgiu a fim de reger as relações entre os homens. É daí que toma forma o princípio mais importante dos dizeres de Agostinho, concretizando-se no que tange a vida em Cristo. O homem é um ser transcendente, sempre em busca da paz e da felicidade. Esta tão procurada felicidade terá consistência quando todos os membros da comunidade humana, especialmente os governantes, aceitarem e praticarem o culto ao Deus verdadeiro. O ser divino deve ser sempre o alicerce e o centro das ações humanas. Além disso, para se conquistar a ordem e a tranquilidade não se deve restringir a política à finalidade única de resolver os problemas de caráter material; também se deve direcionar aos objetivos da alma.
O objetivo da política, para o bispo, assim como nas relações humanas, não se pode limitar a um tipo de valor, mas sim, considerar tantos os valores dos bens materiais, terrestres e necessários, como os valores que precedem o valor absoluto, que é Deus (relação entre o corpo e a alma). Explica isto quando diz que a felicidade em Cristo basta a si mesmo, porém não ocorre da mesma forma com os homens, pois Aquele é eterno, absoluto e perfeito e estes, transcendentes e pecadores. Portanto, a política deve ter o princípio relativo, voltado para a eternidade, a fim de evitar o desvirtuamento da ordem divina, quando existe uma superioridade das vontades, das paixões desordenadas, proporcionando a vitória dos interesses de grupos particulares em detrimento do bem coletivo.
Logo, pode-se imaginar que o Estado, para o santo, nasceu sob a necessidade humana da convivência em sociedade, e não foge à regra divina quanto às funções que este deve exercer para tornar a vida dos cidadãos um pouco mais comedida. O Estado justo deve submeter os habitantes da comunidade à ordem divina e promover os direitos destes, reconhecendo-os. Deve haver a combinação dos mais dessemelhantes indivíduos para se dominar os pecados e as paixões.
Os projetos político-administrativos e humanitários da Cidade Terrestre precisam impor duas bases em Deus, assegurando a paz temporal sob a consciência a respeito da impossibilidade de definir a felicidade absoluta no meio terreno, que só será alcançada na Cidade Celeste. A virtude principal que deve haver é o princípio cristão da caridade, calcada na comunhão e na partilha dos bens materiais.
Santo Agostinho explica que foi a busca incessante pelos interesses particulares dos dirigentes da República Romana, provocando o caos através das revoltas populares sob a desigualdade, que a fez enfraquecer, chegando a ruir. Portanto, a concepção agostiniana para se evitar tal desordem se concretiza no amor a Deus, materializando-se na supremacia dos desejos da alma em relação às paixões da carne.
O conceito de ética para o hiponense se apoia no amor. Com isso, prevê que a idéia que desempenha o papel vital nas ações do homem é a submissão completa da criatura ao seu Criador, visando à eternidade. De antemão, o cidadão deve amar o próximo como a si mesmo, tendo Deus acima de todas as coisas. A fé e a oração são a força motriz que garante a prudência, a justiça, a fortaleza e a temperança. A felicidade é resultado de uma vida virtuosa. A visão de sociedade parte da percepção elementar de que a ética é uma doação de Deus, nascendo em cada indivíduo e desdobrando-se para a uma dimensão social.
(Bia G.)
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